Contemporâneo

Derlon abre exposição 'A Beleza do Tempo' na Amparo 60

Artista pernambucano ressignifica técnica da fotopintura em suas obras

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 29/05/2019 às 14:41
Alexandre Gondim/JC Imagem
Artista pernambucano ressignifica técnica da fotopintura em suas obras - FOTO: Alexandre Gondim/JC Imagem
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Quando a reportagem do Jornal do Commercio chegou à Galeria Amparo 60, Derlon colocava os últimos retoques em uma das duas obras que produziu na entrada do espaço. Pensar os trabalhos para além dos espaços expositivos tradicionais, afinal, é intrínseco ao seu fazer artístico. Seus traços inconfundíveis, que reverenciam a cultura popular, em diálogo com a arte urbana, conquistaram o mundo e, agora, retornam à sua cidade de origem, onde apresenta a exposição inédita A Beleza do Tempo, quinta-feira (30).

Dos muros do Recife aos de Amsterdã e Lisboa, as obras de Derlon sempre mantiveram uma relação íntima com o espaço urbano. Adentrar o circuito tradicional da arte, ocupando galerias, é visto como uma conquista pelo artista, o que não significa um afastamento desse outro modus operandi.

“Os murais são um convite à aproximação das pessoas. Sempre me preocupo em produzir obras que façam as pessoas se sentir mais à vontade, próxima à ideia do grafite na rua. Uma galera que gosta do meu trabalho não se sente pertencente a esses espaços mais tradicionais. O mercado da arte ainda é muito fechado ao grafite, tem muita gente boa fora do circuito, e quero ajudar a mudar isso”, explica o artista.

Recém-integrado ao casting da Amparo 60, Derlon selecionou trabalhos inéditos que representam uma pesquisa sobre fotopintura, desenvolvida ao longo dos últimos dez anos. As fotografias são pintadas a mão. A técnica teve grande popularidade no Nordeste, especialmente no interior.

“Fiquei fascinado por aquela espécie de photoshop artesanal. Aquelas imagens me provocavam uma espécie de saudosismo e esse sentimento é pertinente na minha obra. Busco temas que sejam memórias compartilhadas pelas pessoas. Em geral, essas fotografias retratavam famílias e, no caso das usadas como base para esses trabalhos, utilizei imagens da família da minha namorada, que é do Piauí”, relata.

Essas imagens usadas como base estão na primeira sala da exposição, ao lado de obras em pequena escala produzidas por Derlon. Essa disposição ressalta as particularidades do trabalho do pernambucano, que não busca reproduzir a técnica, mas sim homenageá-la a partir dos seus traços.

SÍMBOLOS

Nesse sentido, além dos retratos, ele retrata também símbolos presentes em muitas das casas dos interiores que visitou, como ícones religiosos. Nas obras em exposição, o artista trabalhou com acrílica sobre MDF e compensado, utilizando spray, estêncil e pincel

A obra que dá nome à exposição é composta por quatro quadros e tem um caráter quase interativo. Em duas delas, o centro é ocupado por desenhos, um retrato e outro simbolizando o sol, enquanto outro quadro tem uma fotopintura no centro. A quarta obra contém um espelho e o espectador pode ver sua imagem refletida, tornando-se parte do trabalho.

Outros quadros da exposição revelam outra pesquisa desenvolvida por Derlon, com intervenções a partir de inserção de outros materiais, como folha de ouro, que são talhadas, e botões. Chama a atenção a obra Sinhô Pipoca, com uma buzina inserida onde ficaria a boca do personagem retratado, aludindo aos vendedores tradicionais da iguaria, que circulavam pelos bairros do Recife.

“Estou experimentando com as técnicas manuais: colar, pregar, furar, enfim. Recentemente fiz curso de marcenaria em São Paulo, onde vivo, e pretendo explorar mais nos meus trabalhos”, reforça.

Após a abertura da exposição, Derlon retorna a São Paulo e, de lá, segue para a França, onde fará uma residência artística e deixará seu trabalho em um espaço aberto da cidade de Nantes.

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