Aos 25 anos, Magda Martins expõe pela primeira vez em uma galeria a relação que desenvolve desde criança com papel, lápis, tintas, canetas. Já bastante conhecida na Região Metropolitana do Recife pelo codinome Riscoflor, através do qual apresenta seu trabalho como tatuadora, a camaragibense abre hoje, na ZV Tatuagem e Galeria, no bairro do Pina, a mostra Travessia, na qual reúne telas elaboradas com técnica mista entre tinta e linhas.
Travessia, ela conta, foi batizada assim por dialogar sobre como se dá seu trajeto como artista. “(As obras) estão entre aquilo que me atravessa, que me toca, e o que faço a partir disso. É possível atravessar meu processo criativo e entender como minhas referências passam a permear meus trabalhos a partir do momento que me reconheço enquanto artista”, detalha.
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Outro simbolismo notável é a data escolhida para abertura oficial da expo, a véspera do Dia da Consciência Negra, o que para Magda, jovem mulher negra e periférica, se torna ao mesmo tempo, íntimo e plural.
O fenótipo negro, a força da mulher como centro de conhecimento e símbolos da cultura negra e nordestina, como carrancas, la ursas e cactos, marcam suas criações desde as tatuagens - que hoje já ornamentam o corpo de mais de 250 pessoas. “É na troca com os meus que reforço a importância dessa representatividade”, diz.
Acessando memórias e ancestralidades, Magda busca inspirações em mestres e mestras da cultura popular, como Zé Negão, educador e propagador do coco de senzala, Mestra Fátima, Vera Galvão, Mãe Beth de Oxum e nos mais velhos de sua família, para passar à frente força e reconhecimento.
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“Acredito que a sabedoria ancestral tem muito para nos ensinar, busco seguir na arte o caminho da resistência, falar do meu povo, da sabedoria, exaltar o fenótipo negro, a periferia. Porque a representatividade nos fortalece”, explica.
“Transitar entre técnicas é sempre uma experiência de descobertas e de experimentação de novos sentidos. Precisei desacelerar meu trabalho com a tatuagem para entender esse novo processo de trabalhar com as telas. Travessia é resultado das ressonâncias provocadas pela exposição de quem sou. Vestígios que me compõem, atravessamentos e encontros”.
Travessia tem curadoria do artista visual e tatuador Nando Zevê e segue aberta à visitação até o dia 19 de janeiro. A abertura oficial acontece às 20h de hoje, com música por conta do Som Na Rural, como parte da programação especial em celebração ao Dia da Consciência Negra.
SERVIÇO
Exposição Travessia, de Magda Martins – Abertura hoje, às 20h, na ZV Tatuagem e Galeria (Galeria Joana D’Arc - Rua Herculano Bandeira, 513, Pina). Visitação até 19 de janeiro. Acesso gratuito.