Fotografia

Exposição reúne fotografias de uma Berlim dividida no pós-guerra

São 104 fotografias do alemão Arno Fischer, expostas pela primeira vez no Recife.

João Rêgo
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João Rêgo
Publicado em 23/01/2020 às 17:02
Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem
São 104 fotografias do alemão Arno Fischer, expostas pela primeira vez no Recife. - FOTO: Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem
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Recife recebe hoje pela primeira vez uma exposição de fotografias do alemão Arno Fischer. Com abertura a partir das 19h, o Museu do Estado de Pernambuco abrigará 104 produções de um dos mais importantes – e esquecidos – fotógrafos da Alemanha Oriental. A curadoria é do fotógrafo, assistente e aluno de Fischer, Andreas Rost.

A exposição promove um mergulho na carreira do alemão, contemplando desde suas primeiras produções no pós-Segunda Guerra Mundial até seus trabalhos com moda (quase todas em preto e branco). Recife será a segunda cidade brasileira a recebê-la, tendo já passado por Brasília, onde, segundo Rost, atraiu um público de cerca de 28 mil pessoas.

No Mepe, as fotografias estão divididas em três salões. Cada um contemplando fases da carreira de Fisher. O primeiro deles, talvez o principal, titulado de Situacion Berlim, dá conta da sua produção na capital alemã, sua cidade natal.

Nele estão reunidos fotografias do período em que a cidade estava dividida entre as potências europeias/Estados Unidos e a União Soviética. Fischer, um opositor ferrenho do nazismo, e com convicções de esquerda, residia no lado Oriental, apesar de discordar e sofrer com várias sanções do regime. Apesar disso, antes da construção do muro, ele também fotografou o lado ocidental da capital, em trânsito livre entre os dois.

“Do lado ocidental ele não tentava capturar as contradições do capitalismo, principalmente a desigualdade entre ricos e pobres. Do lado oriental, ele não gostava da imposição ideológica que existia naquele contexto”, explica Andreas Rost.

Suas fotografias de Berlim explicitavam bem suas opiniões. Fischer construía entre a configuração dos espaços e pessoas significações estéticas para suas capturas. Entre arquitetura, símbolos e feições, poucos conseguiram, como ele, fotografar as feridas da guerra, os resquícios do nazismo, e os contrastes entre o capitalismo e o socialismo em Berlim.

Tudo isso, ressalte-se, brilhantemente organizado através da maneira como ele próprio esculpia o plano fotográfico. “Essas fotos parecem muito com o fotojornalismo e a documentação, mas isso é só um truque. Pode até parecer que elas estão muito próximas da realidade em si, mas quando você olha mais profundamente cada uma delas dessa surgem mais como um símbolo para essa época”, ressalta Rost.

MODA E INTIMISMO

Contrastes também é o que move a segunda parte das suas fotografias; entre suas viagens para a Rússia (em Leningrado) e os EUA (em Nova York). No salão também estão presentes seus trabalhos com Moda – onde foi um dos revolucionários no ramo. Fischer costumava fotografar suas modelos, para a revista Sibylle, na liberdade da rua em oposição a claustrofobia estúdios. Na mesma seção também aparece uma célebre série de fotografias da musa alemã Marlene Dietrich, que o fotógrafo capturou durante um show em Moscou.

No terceiro bloco das exposições estão reunidas fotografias mais intimistas do alemão. Feitas através da câmera Polaroid, os trabalhos evidenciam ainda mais sua formação como escultor – abrindo mão de um olhar mais documental para dar lugar a uma pegada experimental e simbolista. Ao mesmo tempo, elas evidenciam um Fischer perto dos seus últimos anos, mais reflexivo e isolado no jardim da sua casa.

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