Como as cidades históricas com magnetismo para atrair forasteiros, Olinda tem uma particularidade: comida estrangeira oferecida por estrangeiros. Nessa geografia, o Sítio Histórico conta com novo endereço. Italianos da região central de Le Marche, Marco Monaldi e Claudio Vitalli acabam de abrir o Cidade 32, localizado no imóvel com esse número na Praça de São Pedro.
Mais que gastronomia, os donos querem sintetizar no restaurante um microcosmo do que enxergam na própria Olinda. “A ideia é fazer também exposições, concertos, eventos, unir a boa comida à arte”, diz Marco, artista plástico já encantado com a densidade de artistas na cidade.
O C-32 é, pois, um lugar criado para ser sui generis. A decoração feita pela também italiana Frederica Di Donato transforma com elegância e leveza elementos como redes e pranchas antigas de surfe em móveis e decorativos. A casa nos ganha pela ambientação: nos localiza em algum lugar entre a própria Olinda e uma aldeia litorânea da Sicília.
Com algum conhecimento – que italiano filho da nona, aliás, não tem um pé na beira do forno? – os donos são pitaqueiros na cozinha. Mas a execução fica a cargo de Tallys Bastos, um chef jovem de atuação discreta e firme. Seu último trabalho mais notório foi o Raval, restaurante de cozinha mediterrânea que encerrou suas atividades numa casa das Graças já soterrada pelo projeto de um edifício.
O cardápio é enxuto, fácil de consultar e escolher, de sotaque predominantemente italiano. Não é o caso de uma cozinha que vale por uma ida à Itália. Não encontraremos “o melhor risoto de nossas vidas”, nem a “massa mais perfeita já executada do outro lado do Atlântico”. Mas a comida do C-32 é justamente aquilo que nem sempre se encontra: correta. Nem luxuriante, nem deficitária, mas sóbria e de preços razoavelmente contidos.
O risoto com filé ao fungui (R$ 38), corte alto, suculento, arroz ao dente, tem cremosidade reforçada por um pouco de bom mascarpone. Os carpaccios, simples e diretos (R$ 22), podem ser de salmão ou carne. Para abrir mão da carne, há um bom conglioni com legumes (R$ 22) ou o correto fetuccine ao pomodoro, o molho denso sob parmesão ralado (R$ 22). As massas são secas.
Ocasionalmente, pode-se encontrar a campofilone, uma massa típica da comunidade italiana de mesmo nome, importada de pequenas fabriquetas artesanais. Pequenas joias da agricultura familiar italiana podem estar disponíveis sobre a mesa – como o azeite de olivas prensadas com limão de um perfume de percorrer a praça ali na frente.
Ator, Claudio Vale oferece, além do cardápio regular, um tipo de serviço inspirado na Comédia del Arte, o teatro popular de improviso nascido na Itália no século XV. O cliente, assim, pode pedir que os insumos de pratos diferentes sejam trocados e, a depender, solicitar até preparos novos. “Queremos trazer essa descontração para os pratos. Apesar do nome improviso lembrar algo feito às pressas, sem planejamento, o conceito é justamente o contrário. É preciso ter técnica, experiência e profissionalismo para fazer algo bem feito e saboroso de prontidão, sem testes prévios”, afirma Claudio Vitali. É torcer para que, no calor do dia a dia, o improviso não atrapalhe a correção.
Cidade 32. Praça João Alfredo, 32 (ao lado da Igreja de São Pedro), Olinda. F.: 8721-6011 e 9870-6786. Almoço (11h às 16h), de terça a domingo. Jantar (19h a 0h), de quarta a sábado.
