Rodrigo Pedrosa de Oliveira, 32 anos, 1,80 m, 90 quilos, costumava não ter hora certa para se alimentar. Geralmente, com a fome acumulada, acabava por ancorar numa churrascaria tipo rodízio e mandar ver.
Assim acontecia em outras refeições, geralmente caprichadas com linguiças, salsichas, hambúrgueres, enfim, o que se puder imaginar de gordices carnívoras estaria lá, no prato dele. Chegou aos 122 kg, quando resolveu mudar de alimentação e terminou por mudar de vida.
Já havia tentado todo tipo de dieta, quando apelou para uma alimentação mais natural. Morador do bairro de San Martin, na Zona Oeste do Recife, resolveu abrir uma loja voltada para este segmento, uma vez que a opção não existia na vizinhança. Nascia, então, a Empório Saúde.
Foi nas conversas com os clientes que ficou sabendo, primeiro superficialmente, do estilo de vida vegano – aquele que bane do cardápio qualquer item de origem animal. Lentamente, começou a direcionar o rumo do seu negócio para esse lado, até que ele ficou grande demais para San Martin. “Vinham clientes de todas as partes, e eles pediam uma localização mais estratégica”, revela Rodrigo, que é sócio da esposa Juliana de Moura.
Foi dessa maneira que terminou se mudando para a Zona Sul, em Boa Viagem, mais precisamente na Av. Barão de Souza Leão, para onde não apenas transplantou o seu comércio, como resolveu começar do zero: mudou de nome, de logomarca, de mix de produtos, mudou de residência e a escola do filho pequeno. Tudo em nome de um sonho empreendedor.
No dia 8 de fevereiro, um sábado, nascia a Vegaria, destinada a esse público que não acredita na exploração dos animais como fornecedores de matéria-prima, não importando as justificativas. Ser vegano – também descobriria o empresário – implica numa alteração radical de estilo de vida.
A LOJA
A Vegaria assumiu um perfil misto de loja de conveniência, lanchonete, ponto para happy hour (nas quartas-feiras) e local para venda de orgânicos (aos sábados). Pessoalmente, Rodrigo Pedrosa se encaixa na categoria lacto-vegetariano, porque ainda não conseguiu abdicar de sua paixão por queijo coalho assado.
Ele mantém no antebraço uma tatuagem que é uma lembrete permanente do caminho que falta para se tornar 100% vegano: um meio círculo que vai sendo preenchido com tinta à medida que ele vai deixando para trás os elementos nutricionais fornecidos pelos animais. Falta o queijo.
Com o desempenhar das funções na nova arena vegana, Rodrigo Pedrosa aprendeu várias coisas e segue absorvendo informações. “Veganos são muito exigentes a respeito do que consomem”, indica Pedrosa. Isso quer dizer que o comerciante precisa ter na ponta da língua as informações sobre seus produtos. Não raras vezes, uma espécie de sabatina entra em curso para checar detalhes que passariam despercebidos por olhos menos atentos: “Algumas cápsulas de medicamentos, por exemplo, são confeccionadas com gelatina oriunda de bovinos. Um vegano rejeitaria tal produto e precisa ser informado adequadamente”, pondera.
Nada é fabricado na Vegaria, mas Rodrigo Pedrosa teve o cuidado de se cercar de uma rede de produtores locais e de fora que fornece toda sorte de delícias. Na geladeira com porta de vidro que fica logo à esquerda de quem entra, pode-se encontrar o delicioso queijo que, em vez de leite, é feito com jerimum, cenoura e batata.
E muito mais: iogurtes à base de leite de amêndoas, coco e arroz. Uma cervejinha que ninguém é de ferro. Mas, atenção! As marcas selecionadas não recorrem à cola de peixe, utilizada no clareamento do produto, ou patrocinam qualquer evento que explore animais.
Num outro freezer, mais adiante, estão acomodados aqueles produtos que julgamos banidos quando o modo vegano entra em operação: hambúrgueres, linguiças, salsichas, quibe, carne, presunto e até bacon podem ser mimetizados de modo vegetal, bem como creme de leite e maionese. A loja contempla, ainda, itens de vestuário e higiene pessoal, além de prateleiras abastecidas com enlatados, cereais, suplementos alimentares, biscoitos e farináceos, todos seguindo o mesmo preceito,
A Vegaria já se tornou ponto de encontro no fim da tarde para os que querem lanchar. Salgados fresquinhos tentam até os paladares não veganos: coxinha de jaca, bolinhos de jacalhau, pastéis com carne de caju, esfihas e quibes vegetarianos.
RAIO VEGANIZADOR
A chef Fabrisa Silva é uma das colaboradoras mais recorrentes da Vegaria. Nome por trás da marca Frutteto – que existe há um ano – ela usa a imaginação para transformar em receitas veganas pratos simbólicos para os onívoros. Ela reproduz suculência e sabor sem recorrer aos insumos animais.
Fabrisa é ovo-vegetariana e entrou em contato com o modo de vida vegano por conta de uma limitação pessoal: a intolerância à lactose. Formada pelo Centro Universitário Senac, de São Paulo, ela desde sempre se ressentiu da falta de dedicação ao objetivo de servir alimento, e não um produto comestível.
Fabrisa prepara receitas do zero. Nada de abrir latas ou saquinhos, mas construir mo da forma mais artesanal, como faziam nossas avós.
No que diz respeito aos restaurantes onívoros, Fabrisa observou que os poucos pratos que contemplavam as restrições não eram feitos para dar prazer a quem os solicitasse. Certa de que esse era um nicho em crescimento acelerado, ela uniu o útil ao agradável. A Frutetto passará também a aceitar encomendas direto do consumidor que se interessa por essa linha de produtos (9871-8809).
Fabrisa tem no seu receituário um alentado estoque de comidinhas que fazem babar: além do já citado bolinho de jacalhau servido na Vegaria, tem pão mineiro com tomate seco, orégano e linhaça; rondelli com tofupiry e espinafre, jacalhoada, risoto de quinua, veggie burger feito com lentilha e grão-de-bico, linguiça à base de pão, pimentões vermelhos e sementes de mostarda. Na Vegaria, são dela as saladas em copo e os wraps. Deliciosos.
Vegaria Rua Barão de Souza Leão, 221; loja 01. Boa Viagem, fone: 3128-3344