Durante quase 20 anos, funcionou ali um pedacinho da França em Olinda. Depois de montar um albergue, o franco-ganense naturalizado brasileiro Jeff Collas começou a servir no quintal receitas clássicas da pátria culinária de Paul Bocuse. Esse ano, cansado das instabilidade do humor do mercado, Collas jogou a toalha. Sua ex-cliente e amiga Cris Gondim resolveu arrendar a casa. Hoje, o antigo Maison deixou de lado a cozinha dos bistrôs e abraça a brasilidade. No lugar, funciona o Boteco Bonfim, endereço que já caiu no mapa afetivo gastronômico de Olinda.
Boa parte do DNA do Maison continua na casa. Cozinheira auto-ditada, de uma família acostumada a legar as receitas de casa às várias gerações, é a própria Cris quem chefia a cozinha. Mas conta com o auxílio luxuoso da cozinheira Luciana Melo, ex-sous chef de Collas. No serviço, simpático e prestativo, está o garçom Marcílio de Pádua, profissional notório pelo bom humor e bons serviços que o colocam no podium dos melhores profissionais da praça. O Boteco Bonfim é pura simpatia.
Do antigo cardápio (ainda bem), figura o carpaccio, simples e satisfatório, sem maiores surpresas (R$ 20) e as idescritíveis coxas de rã na manteiga de ervas (R$ 40), impecavelmente suculentas. No resto, a casa é pura brasilidade. Inclusive nas ótimas caipirinhas e caipiroscas festas com frutas regionais. A de cajá é sempre campeã nos pedidos.
É um lugar perfeito para a boemia diurna. Para se pedir uma cerveja gelada (quase todas de garrafa grande, 600 ml, de preços camaradas) e ir petiscando. Os acepipes seguem a liturgia dos bons botecos: bons, fartos e baratos. Clássico dos botequins cariocas, a moelinha de galinha guisada, servida numa tijela, com farofinha, custa módicos R$ 10. O tempero marcante e o molho sedoso fazem dessa trivialidade algo de se querer a cada ida. Servida com chutney ou molho barbecue (mais vinagrete e farofinha), a costelinha de porco é perfeitamente frita, ligeiramente crocante por fora, macia por dentro. Vale cada mordida.
FEIJOADA
Há também, claro (estamos em Pernambuco), espetinhos, caldinhos de peixe e feijão e arrumadinhos, de carne de sol ou charque. Ou ainda as almôndegas caseiras, com molho de tomate (R$ 20), com gostinho de almoço de domingo. O cardápio é bem simples. E nisso reside o trunfo da casa: o trivial de boteco bem executado. Para almoçar, propriamente, os pratos podem ser servidos para dois ou individualmente. A peixada (R$ 30 / R$ 54), normalmente vem com peixe fresco, postas altas, legumes, ovos e um molho sedoso que lembra um bisque. Mais arroz e, claro, pirão molinho de sabor bem pronunciado. A rabada (sem agrião, R$ 23 / R$ 44) também aguça o paladar. Assim como o bom cozido e a excelente feijoada ( R$ 24 / R$ 44), com carnes variadas, fartas, e de gorduras excessivas cuidadosamente eliminadas. Já um clássico do lugar. Apenas A galinhada não empolga tanto. É apenas uma boa galinha guisada. O bem pernambucano bacalhau de coco (R$ 23 / R$ 42) também está no cardápio. E rabadinha, também aparada de suas gorduras excessivas, acompanhada de pirão, faz ótima companhia para uma cerveja.
Nesses primeiros meses de funcionamento, a casa só não tem, ainda, o fôlego de funcionamento dos velhos botecos. É mesmo um lugar para a botequinagem diurna. Funciona apenas até as primeiras horas da noite. Nas sextas e nos sábados, os serviços são mais amplos. Vão das 11h30 às 22h. Nos domingos, fecha às 18h. E nas terças e quartas, já às 16h.
Boteco Bonfim. Rua do Bonfim, 115, Carmo, Olinda. Fone: 99653-2307.