Em cinco anos de cobertura do Festival de Cannes, nunca tinha visto tanta gente na fila da sala de imprensa. Resultado: dezenas de jornalistas de todo o mundo ficaram de fora, inclusive este que vos escreve, da coletiva de imprensa de Café Society, de Woddy Allen, que abre o Festival de Cannes. A cerimônia de abertura acontece às 20h desta quarta-feira (15h, no Brasil). Talvez esta seja a rotina que teremos daqui pra frente, com cada vez mais jornalistas credenciados para cobrir o evento. Na era de ouro do jornalismo impresso, a história era diferente. Hoje os milhares de jornalistas que trabalham para publicações online forçam essas mudanças.
Mas o que nada muda é Woody Allen, que trouxe a Cannes mais um dos seus filmes irresistíveis. Café Society, se as contas não estiverem erradas, é o 46º longa-metragem feito para o cinema do diretor nova-iorquino de 80 anos. Assim, não se pode esperar que ele mude agora e faça o que nunca fez antes – ou, no pior dos casos, que desaprenda e faça algo irreconhecível. Desde sempre Woody sempre olhou para o passado em diferentes épocas de sua carreira. Agora, ele recria a década de 1930, numa história que se passa entre Los Angeles (quer dizer, Hollywood) e Nova York.
Se você gostou de filmes como Radio Days, A Rosa Púrpura do Cairo e Meia-Noite em Paris, vai adorar Café Society. Trata-se de uma comédia romântica sobre um rapaz judeu, Bobby Dorfman (Jesse Eisenberg, em seu segundo filme com o diretor), que se apaixona por Vonnie (Kristen Stewart), a secretária do tio Phil (Steve Carell), um agente de estrelas hollywoodianas, sem saber que os dois mantém uma relação amorosa às escondidas. Longe de querer fazer tragédias, Allen acaba dando uma pequena lição de como os amores permanecem para além das vontades dos amantes.
Com sempre inventivo e cheios de piadas – principalmente sobre judeus –, desta vez Woody Allen teve um reforço na sua equipe artística. O diretor de fotografia italiano Vitorio Storaro – que já foi parceiro de Bernardo Bertolucci, Francis Ford Coppola e Carlos Saura – adiciona uma beleza extra ao filme, com cenas magnificamente bem filmadas e até alguns planos-sequências. No entanto, o filme pertence mesmo à Kristen Stewart, que ganhou de Allen uma personagem muito interessante, que ela soube fazer à perfeição.
Aos 26 anos, a Bella da série Crepúsculo entra firme um uma nova fase de sua carreira. Como Vonnie, ele nunca esteva tão bonita na tela. Mas não é só a beleza dela que se percebe no filme. Ao contrário, além da mulher que se transformou, o que vemos na tela é o surgimento de uma estrela. Além de Café Society, que participa do festival hors concours, Kristen é a principal atriz de Personal Shopper, da Seleção Oficial, no qual é novamente dirigida pelo francês Olivier Assayas.
O repórter viajou numa parceria entre o Jornal do Commercio, o Institut Français e a Aeso – Barrros Melo.
