Um dos maiores documentaristas vivos do País, Eduardo Coutinho tem emocionado plateias com As canções, que estreia nesta sexta-feira, no Cinema da Fundação, um filme simples, que toca fundo nas pessoas através das revelações que seus entrevistados fazem a partir de um mote prosaico: qual a canção que marcou a sua vida? Pode ser paradoxal, mas nesta entrevista, Coutinho afirma que não se prende há nenhuma música especial, como os personagens do filme que estreia hoje no Recife.
JC – Como surgiu a ideia de fazer As canções?
EDUARDO COUTINHO – Sempre tive vontade e cheguei a pensar uma vez em fazer um filme só com músicas de Roberto Carlos. Mas era difícil porque eu tinha que encontrar os personagens, filmar na casa deles – ia ser um filme caro. Em 1997, a TVE do Rio me convidou para fazer uma série de dez filmes sobre o Brasil – futebol, literatura, música, etc.. E a sobre música era a ideia que eu fiz agora, com as pessoas cantando as canções que tiveram efeito em suas vidas e que elas contassem o porquê. Muito tempo depois, quando estava no meio de um projeto difícil, me lembrei dessa ideia e disse esse é o filme que quero fazer. Foi um mês e meio de pesquisa, três dias de filmagens e dois meses de montagem. Foi o filme mais fácil, feliz e tranquilo que fiz na minha vida.
JC – Em alguns momentos você demonstra conhecimento das letras das músicas, ajudando até um entrevistado a continuar a cantar.
COUTINHO – Aí é um milagre do Alzheimer, né (risos)? Eu esqueço até de comprar o remédio que tomo há 20 anos e dificilmente ouço música, imagine eu lembrar uma letra. É um troço que acontece uma vez, pro bem e pro mal. Aquela cantora trabalhou em Portugal e esqueceu a penúltima letra, “as pessoas que eu detesto”, e me veio à cabeça. Aconteceu, isso é fantástico num filme... Como é fantástico que um cara chore por uma coisa que ele não tem que chorar. A mãe dele tá viva e ele lembra da canção que ela cantava quando ele era criança. Isso é absurdo. O que o choro dele esconde é um segredo que está lá no fundo desse poço que é a vida dele. Ninguém sabe o que se passou na vida dele e ele chora. Essa reação involuntária e surpreendente é o que me interessa.
JC – Alguma música especial marcou a sua vida?
COUTINHO – Não tenho nenhuma música especial. Mas quando fiz meu primeiro filme de ficção, em 1966, botei Ternura, de Vanderlea, numa cena de um baile de subúrbio onde um cara paquera a protagonista e eu precisava de cinco minutos de música. Não é a música da minha vida, mas me marcou porque eu a usei num filme.
Leia a entrevista completa na edição desta sexta-feira no Caderno C, do Jornal do Commercio.