GRAMADO (RS) – Há uma semana, o cineasta paulista Fernando Meirelles este em Gramado para apresentar o longa-metragem 360, que estreia hoje em todo o País. Produzido com recursos oriundos do Brasil, Inglaterra, Áustria e França, 360 foi filmado em cinco países e se projeta como um vasto painel de personagens que procuram saídas para suas vidas estranguladas. O filme parte do princípio de que uma tomada de decisão, qualquer que seja, tem reflexos em várias vidas. Lembra um pouco a estrutura coral que fez a fama de Robert Altman (Short cuts, Nashville, O jogador), mas não se aprofunda tanto quanto deveria nas tantas vidas que tenta retratar.
Para dar corpo e alma a estas figuras em movimento, Meirelles se cercou de um bom grupo de atores. O grande elenco, naturalmente, é o principal chamariz de 360, que tem interpretações sólidas (apesar de rápidas em sua maioria) de gente como Anthony Hopkins, Jude Law, Jamel Debbouze, Rachel Weisz (de O jardineiro fiel, pelo qual ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante), além de dois atores brasileiros, Juliano Cazarré (Febre do rato) e Maria Flor (Xingu).
No dia seguinte, ele participou de uma longa coletiva com a imprensa e também participou de uma mesa-redonda, onde falou mais reservadamente com alguns jornalistas. Nesta conversa, ele falou do seu novo filme e um novo projeto, que vai contar a rivalidade entre Aristóteles Onassis e Robert Kennedy, além de tema como a violência e porque rejeita trabalhar em Hollywood.
Mudança de tom
O tom do filme é grande, mas o tema é íntimo. Em O jardineiro fiel era a indústria farmacêutica, uma coisa global. É que 360 não tem antagonistas, o cara do mal. O conflito é pessoal. Por exemplo, tem o cara que fica na indecisão: ele vai se se encontrar com uma prostituta ou vai ligar para a mulher e tentar refazer o casamento? Será que o cara fica com Maria Flor ou ele volta para cadeia? Os conflitos são muito íntimos: você tem que segurar os desejos, reprimir as pulsões para poder continuar vivendo e criar a sociedade.
Elenco
A maior parte do elenco foi escolhido pela produção. Mas pelo menos dois eu fui atrás. O primeiro foi o francês Jamel Debbouze, que faz o dentista. Eu gostava dele desde O fabuloso destino de Amélie Poulain. Eu fui apresentado a ele por um produtor em Paris. Como já havia assistido a Cidade de Deus, ele me disse que queria trabalhar comigo. Com o Jude Law foi mais ou menos parecido. Nos encontramos numa cerimônia do Bafta (o Oscar da Inglaterra), na época de O jardineiro fiel. Ele disse que gostou do filme e me perguntou se haveria um papel para ele no futuro. Isso foi mais ou menos combinado e eu o convidei para 360. Mas eu nem imaginava que Law iria aceitar. Afinal, o que ele iria ganhar não se comparava aos filmes de Sherlock Holmes, onde em duas horas recebe o que nós pagamos por cinco dias de filmagens.
Hollywood
Quando você trabalha com um estúdio, o seu contrato é de patrão e empregado. No set, você está lá como diretor, mas a palavra final é do estúdio. Como sou contratado, eles podem me demitir a qualquer hora. É essa a relação que fica no ar, as pessoas sofrem muito com isso. O José Padilha, por exemplo, está sofrendo pra burro com o remake de Robocop
Onassis
Meu próximo filme chama-se Nênesis, que vai contar as diferenças entre o armador grego Aristóteles Onassis e o senador Robert Kennedy. Espero começar as filmagens agora em setembro, mas o elenco ainda não está fechado. Com certeza, é um filme eu vi nascer desde o começo. Quando me ofereceram o projeto, eu só aceitei se pudesse começar do zero, com um novo roteiro. Passei um ano trabalhando com Bráulio Mantovani e o roteiro está pronto para ser filmado.