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CINEMA

Cineasta coreano expia culpa em filme polêmico

Pietà entra em cartaz no Cinema da Fundação

Ernesto Barros
Cadastrado por
Ernesto Barros
Publicado em 15/03/2013 às 6:01
Califórnia Filmes/Divulgação
Pietà entra em cartaz no Cinema da Fundação - FOTO: Califórnia Filmes/Divulgação
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Em 2011, o cineasta coreano Kim Ki-duk, que já teve vários de seus filmes exibidos no Brasil, ganhou o prêmio da Mostra Un Certain Regard, do Festival de Cannes, com o documentário Arirang. Em isolamento extremo, o cineasta purgava a emoção de ter quase causado a morte de um atriz durante as filmagens de Bi-mong (2008). Recuperado, o cineasta também parece ter renascido artisticamente. A retomada de sua carreira deu-se no final do ano passado com Pietà, que venceu o Leão de Ouro do Festival de Veneza. O filme estreia hoje no Cinema da Fundação.

A bem da verdade, Kim Ki-duk não mudou tanto assim, mas não há dúvida de que ele nunca foi tão contundente quanto agora. Seu novo longa causa impacto já a partir do seu cartaz, uma imagem, que não aparece no filme, em que o cineasta evoca a famosa escultura de Michelangelo em que a Virgem Maria carrega o corpo sem vida de Jesus Cristo. 

Em Pietà, Kim Ki-duk tenta captar essa dor imensa por meio de um encontro improvável entre um homem brutal e uma mulher que se aproxima dele. Surgindo quase do nada, ela confessa ser a mãe que o abandonou ao nascer, a culpada por ele ser aquele homem horrível e sem coração. Assim como o Kim Ki-duk de Arirang, Kang-do (Lee Jung-jin) vive isolado e sem amigos. Na casa abandonada onde mora, faz a própria refeição e deixa as entranhas dos animais espalhadas pelo chão do banheiro.

Mas, esses detalhes são coberturas de sua intrínseca maldade, exercida como cobrador de um agiota numa favela de Seul. Todos os dias, ele verifica num caderninho quem ainda não pagou os empréstimos e sai para fazer a cobrança. Sua clientela, formada por gente pobre que trabalha com tornos mecânicos, sofre terríveis mutilações para pagar as dívidas. Eles assinam uma cláusula em que o dinheiro da invalidez será recebido pelo cobrador.

Em pelo menos uma hora, Pietà flagela o espectador com um espetáculo de dor, humilhação e violência em que Kim Ki-duk se compraz em não aliviar a barra. Mas, como tudo tem um limite, o cineasta mostra o verdadeiro sentido do filme quando entra em cena essa mulher sem nome (Cho Min-soo), cuja tarefa será a de redimi-lo ao lhe dar amor e reeducar seus sentimentos. O que vem a seguir, no decorrer da relação estabelecida pelos dois personagens, é um filme de emoção contrastante e pleno de ambiguidades. 

Apesar desse percurso chocante e soturno, acentuado pela câmera na mão nervosa e uma imagem de tons esmaecidos (além de direção e do roteiro, Kim Ki-duk coassina também a fotografia e a montagem), que nos levam a uma sensação de claustrofobia insuportável, Pietà é um filme que se poderia chamar de comovente. Nesse sentido, é diferente, por exemplo, da poesia de Mother – A busca pela verdade (Madeo, 2010), do também coreano de Joon-ho Bong, em que outra mãe-coragem move céus e terra para salvar o filho. Contudo, no fim, ambos os filmes mostram a mesma coisa: para uma mãe, a dor de perder um filho é incomensurável.

 

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