Ícone de uma geração, a música Faroeste caboclo já nasceu épica e cinematográfica quando foi composta por Renato Russo, em 1979, e gravada, oito anos, depois por sua banda, Legião Urbana, no álbum Que país é este? – 1978/1987. O próprio autor falava que queria vê-la adaptada para a telona. (Nota: antes de continuar a leitura vale a pena conferir a canção).
A história contada na letra, de um indivíduo marginalizado no Sertão nordestino que se depara com outro tipo de marginalidade quando chega à incipiente Brasília dos anos 1970, facilmente sugere uma filme de ódio, de vendetta, ao melhor estilo de Martin Scorsese (Taxi driver) e Quentin Tarantino (Django livre). No entanto, o jovem cineasta René Sampaio viu na canção uma história de amor e optou por este caminho para levá-la ao cinema em seu primeiro longa-metragem, que estreia esta sexta-feira (31/5) em 400 salas brasileiras.
Representantes do elenco e da equipe técnica estiveram no Recife, na última terça-feira (28/5), para promover o lançamento do filme e falar um pouco sobre as escolhas tomadas para tornar possível a adaptação. O diretor, René; Marcello Ludwig Maia, um dos produtores executivos; e os atores Fabrício Boliveira e Antonio Calloni se reuniram com a imprensa no multiplex Cinépolis, no Shopping Guararapes (Jaboatão dos Guararapes), que inaugurou oficialmente no mesmo dia.
Mexer com um mito concretizado na cabeça de milhares, milhões de fãs não é fácil. É lidar com uma faca de dois gumes. Para amenizar o efeito das naturais cobranças diante da comparação entre as duas obras, René é enfático: “Espero que os fãs (da canção) entendam que filme é filme e música é música”. Ao que o produtor executivo Marcello Maia complementou: “Muita gente achava que a letra da música era um roteiro pronto. Mas não era”.
Além de Fabrício Boliveira, que encarna o protagonista, João de Santo Cristo, a produção traz, entre os personagens principais, Felipe Abib, no papel do antagonista, o traficante Jeremias; Cesar Trancoso, como Pablo, traficante de origem boliviana e primo de João; Ísis Valverde – em versão acertadamente desglamourizada –, que interpreta a mocinha Maria Lúcia; e os veteranos Antonio Calloni, como o policial Marco Aurélio; e Marcos Paulo (1951-2012), como o senador Ney, pai de Maria Lúcia. O ator morreu em novembro passado vítima de câncer. A trilha sonora é assinada pelo músico Philippe Seabra (da Plebe Rude, outra banda ícone brasiliense) e a preparação de elenco é do experiente Sérgio Penna.
Na conversa miúda entre cinéfilos havia uma expectativa predominantemente negativa sobre o filme Faroeste caboclo. Apesar de não ser uma obra-prima (e quem disse que todo filme deve ser?), o longa-metragem dedica um olhar importante sobre diversas questões, muitas delas sérias, como a formação do povo brasileiro e as distorções das relações sociais, e outras mais leves, porém, não menos relevantes, como a influência da cultura pop contemporânea na vida dos jovens do País.
O romance de João de Santo Cristo com sua amada Maria Lúcia de certa forma enfraquece uma leitura mais séria. Porém, o filme valerá muito mais ao espectador se este for assisti-lo preparado para entender uma perspectiva mais politicossocial.
Leia a matéria e a crítica completas na edição desta sexta-feira (31/5) do Caderno C do Jornal do Commercio