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Livro estuda período subestimado do cinema pernambucano

Professor da UFPE, Paulo Cunha lança livro sobre um período negligenciado da produção cinematográfica pernambucana

Allan Nascimento
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Allan Nascimento
Publicado em 18/02/2014 às 7:01
Foto: Oscar Malta/divulgação
Professor da UFPE, Paulo Cunha lança livro sobre um período negligenciado da produção cinematográfica pernambucana - FOTO: Foto: Oscar Malta/divulgação
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Entender a construção de uma cena cinematográfica numa metrópole periférica e pobre, como o Recife do início do século 20, foi uma espécie de mote que serviu de instigação para o pesquisador Paulo Cunha escrever A imagem e seus labirintos – O cinema clandestino do Recife, resultado de cinco anos de pesquisa, livro que lança hoje, na Biblioteca Central da UFPE.

O desejo de modernidade da província – como a cidade é tratada no livro – justifica o pioneirismo do Recife. Como relata o livro, Salvador, por exemplo, só deu início ao seu ciclo de cinema por volta da década de 1950. O livro, entretanto, não se detém nesse assunto, vai de além traçar comparativos entre a produção local com a de outras regiões do País.

“A historiografia narrava que, depois do Ciclo do Recife (de 1923 a 1930), a produção de cinema parou na cidade. Isso me incomodava, então fui pesquisar o que ocorreu após o período”, conta o autor. Assim, Paulo apresenta a crônica de um tempo subestimado da história do cinema recifense, que se revela fundamental para o desenvolvimento da sétima arte pernambucana.

O período de 1930 a 1964 – que compreende o Estado Novo, a Segunda Guerra e o golpe que instaurou a ditadura militar no Brasil – representou uma época de expansão das salas de exibição e de formação dos primeiros cineclubes locais. “Também foi um período que formou uma crítica cinematográfica consistente na cidade, algo que existe até hoje”, ressalta.

Abaixo, orelha do livro escrita por Ernesto Barros, crítico de cinema do JC:

Por muitos anos, era senso comum afirmar que uma nuvem negra pairava sobre o cinema feito no Recife. E que, entre um espasmo e outro, sem previsão, iria surgir uma nova leva de entusiastas – geralmente jovens, em cada época – com vontade de criar novos filmes. Nos hiatos entre essas convulsões, acreditava-se que a cidade e seus habitantes viveram uma longa noite de espera por um novo ciclo, numa sucessão imprevisível de quedas e levantes.

Como já apontara em A utopia Provinciana: Recife, Cinema, Melancolia, ensaio publicado em 2010, o professor e pesquisador Paulo Carneiro da Cunha Filho comprova em A imagem e seus Labirintos: O Cinema Clandestino do Recife – 1930 – 1960, que a ausência de produção não acabou com o imaginário do cinema, um fenômeno que circula – como uma freqüência alternada – desde os tempos heróicos do Ciclo do Recife.

É a partir dessa bifurcação entre o cinema e o Recife que Paulo Cunha retoma seu projeto histórico-afetivo, dessa vez a partir de um período de transição. Apesar de esparsa e quase inexistente – como acontecera com todas as cinematografias mundiais, após o advento do som –, ainda assim dois longas-metragens foram realizados no Recife (O coelho sai, em 1942, e O canto do mar, em 1950).

Mas, para além de toda a questão econômica, o que Paulo Cunha revolve é uma riqueza mais valiosa. Como uma energia que eletrizou estudantes, filósofos, críticos, jornalistas e cinéfilos, a discussão em torno dos filmes deu ao Recife a medida exata de sua inequívoca vocação para o cinema.

Com faro de repórter e de historiador – foi aluno de Marc Ferro, na Sorbonne – Paulo Cunha nos leva a uma época em que o Recife vivia uma grande efervescência intelectual, com o pensamento sobre o cinema animando dezenas de cineclubes e grupos de afeto. Sem propensão ao isolamento, o Recife fazia parte de uma corrente e trocava figurinhas com o que se pensava em Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo.

Das teorias de Evaldo Coutinho, que defendia a pureza do cinema silencioso, às posições revolucionárias da geração mais nova, representada por figuras como Orman de Freitas e Jomard Muniz de Brito, Paulo Cunha faz-nos crer que estamos vendo filme feito de palavras e paixão. Agora, só nos cabe esperar pelos próximos capítulos dessa história de amor entre o Recife e o fazer cinematográfico, que ora se assume como corpo (filme), ora como espírito (ideias)
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Leia a matéria completa na edição desta terça-feira (17/02) do Caderno C, no Jornal do Commercio.

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