CRÍTICA

Polêmica chega ao fim com estreia de Ninfomaníaca - Parte 2, de Lars von Trier

Filme traz vida adulta da personagem Joe, vivida pela francesa Charlotte Gainsbourg

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 13/03/2014 às 6:01
California Filmes/Divulgação
Filme traz vida adulta da personagem Joe, vivida pela francesa Charlotte Gainsbourg - FOTO: California Filmes/Divulgação
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Em virtude de seu inequívoco talento para o marketing pessoal e a provocação, o cineasta dinamarquês Lars von Trier acaba angariando uma antipatia indevida aos filmes que realiza. Pelo menos desde Os idiotas, de 1998, ele quase não separa mais vida e obra. O jogo continua com o díptico Ninfomaníaca – Parte 2, que estreia hoje, pouco mais de dois meses depois de Ninfomaníaca – Parte 1

Sua estratégia, no entanto, é diferente. Apesar de atiçar a imaginação da plateia bem antes do lançamentos das duas partes do filme, von Trier manteve-se fiel ao voto de silêncio que anunciou, em maio de 2011, no Festival Cannes, após a coletiva de imprensa de Melancolia, quando disse que compreendia Hitler.

Desde então, ele não se pronunciou mais e não deu sequer uma entrevista para promover Ninfomaníaca. Diante do teor polêmico do filme, a falta dele nem foi sentida. A verdade é que a questão é outra: Lars von Trier nunca se expôs tanto em sua carreira. Agora, com o filme completo – não obstante em versão mutilada (após acordo do diretor com a produtora) –, a jornada da ninfomaníaca Joe ganha em sentido e profundidade.

Na primeira parte, em que acompanhamos detalhes de sua juventude (Stacy Martin) contada por ela mais velha (Charlotte Gainsbourg), não dá para perceber no que Joe se transformaria na vida adulta. Nesta conclusão, ela continua a contar a sua história para Seligman (Stellan Skarsgard), desde quando reencontra Jerôme (Shia LaBeouf) e fica grávida.

Mesmo ainda interrompendo a narrativa com suas digressões, Seligman tem, dessa vez, uma participação menor. Ele traduz certos acontecimentos da vida de Joe, principalmente o orgasmo espontâneo – ou ataque epiléptico, segundo os médicos – que ela sentiu aos 12 anos, além da visão que teve com duas mulheres. Na explicação de Seligman, elas seriam duas ninfomaníacas históricas: Valeria Messalina, mulher do imperador romano Cláudio, e a maior prostituta da Babilônia.

Segundo Joe, ela nunca mais sentiu prazer desde aquela data, o que resultou em sua busca incessante por sexo durante toda a vida. O filme muda de tom já a partir da presença constante de Charlotte, que se entrega a Joe com a coragem só facultada às grandes intérpretes, mesmo que em algumas cenas os dublês tenham sido necessários. 

Como em um filme só, percebemos o beco sem saída da existência de Joe, mas igualmente seu orgulho em se aceitar como ela é, sem nunca se deixar vender por qualquer preço. “Sou ninfomaníaca”, é o que Joe diz às mulheres de um grupo de apoio a viciadas em sexo. Por causa dessa insatisfação, ela deixa o filho bebê sozinho em casa (numa cena que lembra Anticristo), contrata parceiros (a cena com dois africanos é tragicômica) e até um sádico profissional, K (Jamie Bell, o menino de Billy Elliot). Depois de muita dor, ao levar 39 chibatadas romanas, uma a menos que Cristo, é que ela tem um orgasmo.

No seu percurso rumo ao nada, Joe ainda trabalha para L (Willem Defoe) como coletora de dívidas e conhece P (Mia Goth), uma menina que ela adota e tem uma relação. Sexo, morte, dor, pedofilia e culpa cristã entram no caldeirão de sentimentos evocados por Lars von Trier. Mais uma vez, o diretor desafia a plateia com seu cinema que fuça o ser humano em sua descida ao inferno da existência.

Leia a matéria completa na edição quinta--feira (13/03) no Caderno C, do Jornal do Commercio.

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