CRÍTICA

Uma história inspiradora no longa Uma lição de vida

Filme conta como um idoso do Quênia foi à escola pela primeira vez aos 84 anos

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 01/10/2014 às 6:00
Europa Filmes/Divulgação
Filme conta como um idoso do Quênia foi à escola pela primeira vez aos 84 anos - FOTO: Europa Filmes/Divulgação
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Histórias reais em que o homem supera situações adversas sempre tiveram um lugar garantido na tela do cinema. Com a popularização da TV, no entanto, algumas delas – comuns e extraordinárias, em muitos casos – encontraram lugar apenas na tela pequena. Apesar disso, vez por outra alguns exemplos de vida se mostram tão inspiradores que precisam de uma tela larga para serem conhecidos.

Um bom exemplo é a produção inglesa Uma lição de vida, que conta a história de Kimane Maruge, um idoso do Quênia que foi à escola primária pela primeira vez aos 84 anos, um recorde que entrou no livro Guinness em 2004. O filme entra em cartaz nesta quinta-feira (2/10) no Moviemax Cine Rosa e Silva depois de quatro anos de sua estreia mundial nos festivais de Telluride (Estados Unidos) e Toronto (Canadá), em que ficou no segundo lugar na votação popular.

Naturalmente, esse atraso no lançamento não é demérito para o filme. Ao contrário, Uma lição de vida é desses filmes que devem ser vistos. Filmado em comunidades do próprio Quênia, o longa mostra como Maruge, um ex-militante da revolução Mau-Mau – o movimento guerrilheiro que enfrentou os ingleses com armas, na década de 1950 –, resolve aprender a ler quando o governo anuncia que todos os habitantes do país terão direito a educação.

Inicialmente rechaçado em virtude da idade, já que a escola é pequena até para os alunos de seis de idade, Maruge não desiste do seu sonho: ler uma carta enviada pela presidente do país, em que ele é indenizado pelos anos de cativeiro e tem reconhecido o valor de sua tribo, os Kikuyu, que não desistiram da terra onde nasceram e lutaram contra o colonizador inglês.

Para embasar a luta histórica de Maruge, numa excelente interpretação do jornalista e ator queniano Oliver Litondo, o diretor inglês Justin Chadwick mistura a cruzada do idoso com flash-backs de seu passado, quando foi torturado e teve mulher e filhos mortos por soldados ingleses. Esse passado também está escrito em suas costas, que ele mostra quando invade o gabinete do presidente, em Nairóbi, para requerer a sua permanência na escola.

Apesar de não ser bem-vista pelos moradores da aldeia, a presença de Maruge é aceita pela professora Jane Obinchu (Naomie Harris), que faz de tudo – até pôr a vida e a carreira em risco – para mantê-lo na escola.

É bem verdade que, apesar de toda a boa vontade da produção, percebe-se que o diretor Justin Chadwick não evitou um certo olhar exótico e paternalista para embalar a história de Maruge, especialmente no uso constante de canções - belíssimas, por sinal – um tanto folclóricas. Isso, no entanto, não tira a emoção nem o valor humano de Uma lição de vida. No ano passado, Chadwick pegou material ainda melhor em Mandela - o caminho para a liberdade, a cinebiografia oficial do líder sul-africano.

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