O gênero terror é tão atraente que os fãs ficam salivando toda vez que um filme chega à tela grande. Duas semanas depois de Livrai-nos do mal, outra história de possessão demoníaca estreia hoje nos cinemas: Annabelle, de John R. Leonetti, a esperada prequel do excelente Invocação do mal, que no ano passado gelou o sangue de muita gente.
Para quem não lembra, Annabelle é o nome da boneca que aparece na sequência de abertura do primeiro longa. O novo filme começa com mesma cena. Mas, em comparação, Annabelle fica bem atrás, já que o longa anterior, dirigido pelo cineasta malaio James Wan (agora, só produtor), é um terror de gelar a espinha. Os dois filmes, claro, respiram a mesma atmosfera de medo e angústia.
Apesar de não ser um diretor muito tarimbado, Leonetti – diretor de fotografia de Invocação do mal – sabe o que está fazendo. Bom técnico, ele prefere ser mais sugestivo do que James Wan. Ainda assim, sem criar tantas cenas empolgantes, nem repetir o malabarismo de câmera do primeiro filme, Leonetti faz um bom exemplar do gênero, que cativa o espectador pela direção clássica e uma certa cinefilia.
O mais interessante é que o roteirista Gary Dauberman situa melhor a história. Agora, com a ação passada alguns anos antes, Annabelle remete a fatos verdadeiros do final dos 1960, como o assassinato da atriz Sharon Tate pela gangue de Charles Manson, em Los Angeles. É pela tela da pequena TV em preto e branco, na sala de Mia (Annabelle Wallis) e John (Whad Horton), que ficamos sabendo dos desdobramentos do crime.
O tormento do casal começa quando John, um médico recém-formado, dá a boneca Annabelle de presente à mulher grávida. Como sabemos, a boneca ficava presa numa caixa de vidro em Invocação do mal. A partir daí, o mal está de novo à espreita, com o diabo novamente à procura de uma alma. Aos poucos, o cotidiano tranquilo de Mia, que passa horas preparando o enxoval do bebê, se transfigura num verdadeiro inferno. Como coleciona bonecas, ela sequer imagina que o mal está ao seu lado.
A entrada em cena de uma bibliotecária, vivida por Alfre Woodward, equilibra as forças e permite que a luta contra o demônio, que aparece em pessoa várias vezes, aponte para uma resolução mais inquietante que a vista no filme de Wan.
Embora Annabelle lembre outros bonecos diabólicos do cinema, o filme se alia mais a obras como O bebê de Rosemary, de Roman Polansky. Além da personagem se referir à Mia Farrow, o casal vive num edifício de presença tão forte quanto o Dakota, em Nova Iorque.