Os festivais de cinema fervilham no Brasil. Enquanto a Mostra de São Paulo entra na segunda semana, o Janela Internacional de Cinema, no Recife, e o Panorama Internacional Coisa do Cinema, em Salvador, dão a largada nesta sextaf-feira (24/10) e sábado (25/10), respectivamente.
O Janela, que chega à sétima edição este ano, propõe uma montanha russa de emoções cinematográficas. Durante 10 dias, 130 títulos vão rolar em três pontos de exibição: o Cinema São Luiz, no Centro; o Cinema da Fundação, no Derby; e o Portomídia, no Bairro do Recife, que entra no circuito pela primeira vez. Na tarde desta quinta-feira (23/10), as filas para a compra de ingressos, no São Luiz, serpenteavam entre a Rua da Aurora e a Avenida Conde da Boa Vista.
Neste primeiro fim de semana, as ofertas serão variadas. Os cinéfilos, se quiserem acompanhar tudo, terão que adquirir o impossível dom da ubiquidade. Mas, certo mesmo, é que escolhas serão feitas e as perdas contabilizadas. Se a preferência for o cinema pernambucano, prepare-se logo para conferir a abertura do festival, às 21h, com a sessão dupla de Sem coração, de Nara Normande e Tião, e Brasil S/A, de Marcelo Pedroso.
Vencedor do Prêmio Illy, na Quinzena dos Realizadores, no último Festival de Cannes, e o Candango de Melhor Curta, em setembro, no Festival de Brasília, Sem coração trata, com liberdade de interpretação e senso poético, uma situação envolvendo adolescentes de universos distintos.
A partir das lembranças de Nara, o filme mostra a chegada de Leo (Rafael Nicácio), um menino da capital, que vai passar as férias na casa de um primo, numa cidadezinha do litoral, e conhece a menina Sem Coração (Eduarda Samara). Embora abusada sexualmente pelos coleguinhas, Sem Coração e Leo partilham um momento de inocência e desejo que tem o entorno da praia como testemunha.
Brasil S/A, grande vencedor do Festival de Brasília com cinco Candangos, aponta, com ironia e sarcasmo, as opções desenvolvimentistas que o Brasil tem seguido ao copiar modelos estrangeiros – uma ideia-matriz criada desde a colonização pelos portugueses. Ao trazer a questão para os dias atuais, Marcelo abre o filme com um navio em alto-mar. Da China, chega um carregamento de máquinas que são escoltadas por comboio policial.
Filmado com grandiosidade, em escala épica, o filme se estrutura a partir de esquetes. De forma orgânica, Marcelo cria situações que desnudam a sociedade em que vivemos. Sem recorrer a diálogos e narrações em off, Brasil S/A se sustenta pela plasticidade e pelo uso constante da trilha sinfônica, composta por Mateus Alves. A acidez do diretor explode ao criar uma solução para a mobilidade urbana (um caminhão-cegonha carrega carros enquanto os motoristas ficam alheios ao que acontece ao redor) ou quando mostra o idílio de se viver em condomínios fechados (com as famílias fazendo piquenique em ambientes assépticos). A geração Ocupe Estelita irá ao paraíso com estas sequências.
Leia a matéria completa na edição desta sexta-feira (24/10) no Caderno C, do Jornal do Commercio.