CINEMA

A história da eternidade, de Camilo Cavalcante, chega ao Recife

Filme é exibido neste sábado (1º/11), no Cinema São Luiz

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 01/11/2014 às 10:45
Arthouse/Divulgação
Filme é exibido neste sábado (1º/11), no Cinema São Luiz - FOTO: Arthouse/Divulgação
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Fiéis e cinéfilos têm muitas coisas em comum: eles se encontram em catedrais e cada um professa a sua fé com o máximo de dedicação. Mas, desde que as salas de cinema começaram a rarear nas ruas, os crentes no poder das imagens quase perderam o rumo. Aqui no Recife, por puro milagre, temos o Cinema São Luiz, um templo que mantém as portas abertas para cinéfilos de todos os credos.

Foi lá que muitos cineastas pernambucanos viram, na infância, seus primeiros filmes. Para alguns, exibir um filme no São Luiz só se compara à primeira missa de um jovem padre na Basílica do Carmo. É assim, investido de um fervor quase religioso, que Camilo Cavalcante encara a estreia de A história da eternidade, seu primeiro longa-metragem, neste sábado à noite, no Janela Internacional de Cinema.

"Será uma grande emoção ver o filme em casa, no cinema que conheço desde criança, na companhia da minha família, meus amigos e do público recifense", adianta o cineasta, que estava ontem na histórica cidade de Cachoeira, no recôncavo baiano, para acompanhar uma sessão de A história da eternidade no Festival Panorama Coisa de Cinema.

Primeiro longa gestado em meio a uma longa carreira como curta-metragista, a estreia de Camilo Cavalcante estava sendo cercada de muitas expectativas. Sua criação ligada às raízes nordestinas e quase litúrgica na crença por um cinema que tem sua força na pureza da imagem, já perscrutado em alguns de seus curtas, ganha em A história da eternidade a sua máxima expressão.

Como uma tapeçaria em que vários elementos se cruzam para formar uma grande peça, o filme entrecruza, habilmente, três histórias envolvendo mulheres e seus desejos, amores e rancores inconfessáveis. Uma idosa (Zezita Matos), por exemplo, vê o prazer renascer com a chegada do neto (Maxwell Nascimento), que aparece fugido de São Paulo. Um sanfoneiro cego (Leonardo França) pacientemente espera o amor de uma mulher (Marcélia) marcada pelo sofrimento. E uma adolescente (Débora Ingrid), que nunca viu o mar, vê no tio sensível e epiléptico (Irandhir Santos), o passaporte para uma vida futura, longe do pai opressor (Cláudio Jaborandy).

Milimetricamente cinzeladas e fundidas, as histórias se mesclam com arte, engenho e beleza, sublinhadas pela trilha sonora composta por Dominguinhos e pelo polonês Zbigniew Preisner (famoso pela parceria com o cineasta Kryzstof Kieslowski). Por cerca de uma hora, a câmera quase não se movimenta, com o diretor de fotografia Beto Martins pedindo emprestado uma coleção de sombras magníficas ao mestre italiano Michelangelo Merisi da Caravaggio

Quando ela se movimenta, pela primeira vez, é como se todas as forças do universo estivessem do lado de Joãozinho, o personagem de Irandhir, que se desata a cantar Fala, dos Secos e Molhados. Este momento sublime, de grande força emocional, é apenas o começo de uma aposta na capacidade que o ser humano tem de imaginar e lutar pela felicidade.

Por suas inúmeras qualidades, o filme tem conquistado os críticos e o público desde que foi apresentado no Festival de Roterdã (Holanda), no começo do ano. De lá para cá, arrecadou vários prêmios nos festivais de Paulínia (SP), Vitória (ES), Curta SE e Mostra de São Paulo, onde ganhou o Prêmio do Público, na última quarta-feira.

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