Maior evento cinematográfico do ano, o novo longa-metragem da franquia Jogos vorazes abusa de seu poder de fogo ao ocupar quase metade do parque exibidor brasileiro – algo em torno de 1.400 salas espalhadas por todo o País. Só na Região Metropolitana do Recife são 31 salas exibindo o mesmo filme.
Sem as sequências de ação proporcionadas pelas competições mortais dos dois primeiros filmes, Jogos vorazes: a esperança - parte 1, em cartaz desde a madrugada de quarta-feira (19/11), ficou reduzido a um amontoado de conversas enfadonhas e uma ou outra escaramuça entre os revoltosos do 13º Distrito, simbolizado pela jovem Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence), e o exército de Panem, comandado com mão de ferro pelo presidente Snow (Donald Sutherland).
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Como estratégia de marketing, é quase certo que o resultado seja uma nova quebra de recorde. Mas, como toda ação tem sua reação, não causará estranheza se muitos fãs da franquia ficarem desapontados com o que assistiram. Com certeza eles não estavam esperando um filme tão para baixo e pouco envolvente como a primeira parte da adaptação de Mockingjay (Tordo, como é conhecida Katniss), o capítulo final da trilogia escrita por Suzanne Collins.
Apesar disso, não deixa de ser uma aposta corajosa do diretor Francis Lawrence, que assumiu a franquia a partir de Jogos vorazes: em chamas, lançado no ano passado. Pode-se dizer que o primeiro terço de Jogos vorazes: a esperança - parte 1 não é ruim. Jennifer Lawrence tem ótimos momentos ao acordar num hospital do 13º Distrito, uma cidade subterrânea com governo próprio e chefiado pela presidente Alma Coin (Julianne Moore).
Deprimida após a difícil final dos segundos jogos, em que o namorado Peeta (Josh Hutcherson) foi deixado para trás, a jovem se anima um pouco quando reencontra a mãe e a irmã. A felicidade dura pouco quando vê, com os próprios olhos, que o lugar onde vivia e quase todos seus moradores viraram cinzas pela ação do exército de Panem. Por causa de sua liderança, Katniss é convocada para operações de propaganda, mas não consegue gravar as frases de ordem.
A descoberta de que Peeta mudou de opinião e está do lado de Snow, quando ele aparece em entrevistas direcionadas justamente para ela, talvez seja a única virada de roteiro de Jogos vorazes: a esperança - parte 1. Nem mesmo a presença de Gale (Liam Hemsworth), que ainda é apaixonado por ela, faz com que a história ganhe um desvio romântico.
Só na parte final, numa sequência muito rápida, é que o filme parece um pouco mais vivo. Por sorte, a ponta solta justifica a espera pela parte 2, que só deve estrear exatamente daqui a um ano. Como não se trata de um episódio de TV, que se sucede semanalmente, a espera dos fãs vai aumentar na proporção exata do sucesso dessa primeira parte. O maior medo é o mesmo de sempre: reservar metade dos cinemas do País para um único filme numa prática que está sendo chamada de predatória.