Em quase metade de sua extensa filmografia, o cineasta inglês Ridley Scott iluminou mundos com a habilidade de um artista que sabe expressar visualmente como foi o nosso passado, e até mesmo como poderá ser o futuro, em filmes marcantes como Os duelistas, Alien – o 8º passageiro, Blade Runner – Caçador de androides e Gladiador. Mais uma vez – como já fizera com a Roma antiga, as cruzadas, a descoberta do novo mundo e as guerras napoleônicas –, o cineasta lança luzes para um dos períodos fundadores da história da humanidade.
Em Êxodo: deuses e reis, que estreia nesta quinta-feira (25/12) em circuito nacional, Scott reconta uma página do Antigo Testamento particularmente muito amada pelo cinema: a libertação dos judeus, escravizado por 400 anos sob o jugo do egípcios, por Moisés, que conduziu seu povo para a terra prometida, além de ter se responsabilizado por espalhar os 10 mandamentos da lei divina.
Já levada ao cinema várias vezes, a história teve seu maior momento há quase 60 anos, quando Cecil B. DeMille realizou Os 10 mandamentos, uma superprodução de 3h40 minutos famosa por cenas engenhosas – como a abertura do Mar Vermelho, cujos efeitos especiais garantiram o seu único Oscar –, e monumentais, sempre permeadas pelo olhar mundano do seu diretor.
Na versão de Ridley Scott, a maior novidade é a atualização tecnológica do efeitos digitais e da terceira dimensão. Em relação aos personagens, o traço mais relevante entre o Moisés interpretado por Charlton Heston, em Os 10 mandamentos, e Christian Bale, em Êxodo: deuses e reis, é que agora o príncipe do Egito é um guerreiro. Essa faceta belicosa de Moisés é a maior diferença entre os dois filmes.
A história, muito conhecida, segue basicamente da mesma maneira já contada em filmes e animações, com a revelação de que Moisés é judeu. No exílio, quando tem a certeza de que foi o escolhido para tirar seu povo da escravidão, ele volta para enfrentar o faraó Ramsés (o australiano Joel Edgerton), que foi criado ao seu lado. Sem exército, Moisés recebe a ajuda divina com sucessivas pragas que dizimam a agricultura e o povo egípcio.
Como não há muitas surpresas no decorrer do filme, o grande interesse de Scott fica restrito à construção de cenas grandiosas, seja na escala da cidade egípcia de Mênfis, seja nas cenas de batalhas. Além de enterrado em efeitos especiais nem sempre convincentes – os extras digitais parecem formigas filmadas a léguas de distância –, os quatro roteiristas contratados pelo diretor não foram felizes ao diminuir a força de alguns fatos que poderiam ter sido melhor aproveitados visualmente.
Essa conjunção de efeitos especiais ruins e falta de imaginação resultou na maior frustração, justamente na famosa cena em que o Mar Vermelho se abre diante de Moisés e dos escravos. A única coisa que acontece é o mar ficar com o leito seco. E quando as ondas digitais atingem os soldados egípcios, o impacto é zero.
Arrastado e pouco envolvente, Êxodo: deuses e reis só não peca mais em virtude da pesquisa do compositor espanhol Alberto Iglésias, que criou uma bonita trilha sonora inspirada em elementos éticos.