Nas exibições de Mad Max: estrada da fúria (Austrália, EUA, 2015), os cinemas deveriam trocar o anúncio “coloquem seus óculos 3D” por “apertem os cintos”. Seria um conselho mais adequado para acompanhar as quase duas horas de ação desenfreada e belissimamente filmadas por George Miller, que retorna à sua criação depois de 30 anos.
Neste tempo em que vivemos, em que tudo é adaptação, continuação, remake e reboot, nem mesmo a presença do criador original da obra é garantia de qualidade - vide Prometheus (2012), de Ridley Scott, e Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (2008), de Steven Spilberg e George Lucas. Mas Geoge Miller conseguiu: não só revitalizou sua franquia de fantasia pós-apocalíptica como entregou para o público um produto melhorado, tirando proveito dos avanços técnicos do cinema e de um orçamento mais gordo.
De caso pensado, Miller não deixa claro se o novo filme é uma continuação ou um novo início para a franquia. O ex-policial Max Rockatansky agora é interpretado por Tom Hardy (o Max original, Mel Gibson, até estava escalado nas primeiras versões do roteiro, ainda em 2003), mas mantém algumas características do personagem: o passado sombrio, a prótese exoesqueleto na perna e o icônico Ford Falcon Interceptor. De resto, fica difícil localizar Estrada da fúria na cronologia dos filmes antigos. Ele pode estar entre o segundo e o terceiro, ou em lugar nenhum. Por isso, o filme também funciona sozinho - não é preciso ver os anteriores para entender a trama.
Em sua nova aventura, Max se vê mais uma vez entre duas forças opostas, Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne), o semi-deus comandante da Cidadela e de um exército de “war boys”, e Imperator Furiosa (Charlize Theron), que quer salvar as cinco esposas do tirânico ditador e levá-las para o outro lado de Wasteland. Simples assim, Estrada da fúria é basicamente um road movie de fuga, repleto de cenas de ação maravilhosamente coreografadas e produzidas, tudo muito real apesar do visual bizarro dos personagens.
A construção de mundo de Miller também é um show à parte. O universo dos filmes Mad Max é recheado de figuras marcantes e de uma direção de arte caprichada. A sociedade pós-apocalíptica é uma colcha de retalhos, tanto no visual, já que roupas e carros são feitos de pedaços reaproveitados do mundo antigo, quanto culturalmente – pescar referências à cultura moderna nos diálogos é uma diversão em si. Não é a toa que o filme coleciona boas notas nos agregadores de opinião da internet: 90 no Metacritic, 9,3 no IMDB e 99% no Rotten Tomatoes.