ADAPTAÇÃO

Marcelo Brennand faz filme baseado em conto de Ronaldo Correia de Brito

O diretor pernambucano fara sua estreia na ficção cinematográfica com "Duas Mulheres em Preto e Branco"

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Publicado em 20/06/2015 às 5:07
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O diretor pernambucano fara sua estreia na ficção cinematográfica com "Duas Mulheres em Preto e Branco" - FOTO: Alexandre Gondim/JC Imagem
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Ao ler o texto do conto Duas Mulheres em Preto e Branco, do escritor Ronaldo Correia de Brito, o cineasta pernambucano radicado em São Paulo Marcelo Brennand notou, logo de cara, o caráter dramático daquela história sobre duas velhas amigas que relembram, com dor e rancor, o passado e falam sobre como traíram os seus maridos e a própria amizade. Ele já havia tido vontade de adaptar para o cinema outra história do autor cearense, o premiado romance Galileia, que já estava com os direitos vendidos para outra empresa. Recebeu, então, de Ronaldo a proposta de recriar o conto do livro Retratos Imorais, um texto que logo o impressionou.

Depois de três anos de trabalho com o roteiro, feito com Anna Carolina Francisco, e com a produção, nas mãos de João Júnior, Marcelo se prepara para começar a filmar a partir de domingo (21/6)  a obra. Diretor do documentário Porta a Porta – A Política em Dois Tempos (2011), ele faz agora a sua primeira experiência na ficção, comandando as atrizes Gilda Romacce e Malu Bierrenbach nos papéis de Sandra e Letícia.

“Logo ao ler o conto, eu notei que ele era perfeito para o cinema, como se tivesse sido concebido para isso. A partir daí, fui tentar racionalizar a minha intuição para dar uma visão minha para o texto”, conta o diretor. A ideia inicial era fazer um longa, mas ele e Anna Carolina notaram que isso estava diluindo a força da história, esticando-a demais.

O aspecto dramático e cinematográfico da obra, que também já foi adaptada por Moacir Chaves para o teatro em 2012, não é por acaso. Segundo Ronaldo, seu processo de escrita sempre começa com a criação de imagens. “Acho que eu tenho um tipo de escrita instigante para um diretor de cinema. Sou um escritor que foi um cinéfilo desde a infância, eu sempre me intoxiquei de cinema”, comenta o autor.

O filme foi viabilizado através da presença da REC Produções. “Quando chegou o projeto, que unia um escritor consagrado a um diretor talentoso, até mim, eu não tinha como dizer não”, confessa João Junior. Além de Gilda e Malu, o elenco é completado por as atrizes Miriã Possani e Anaterra Veloso. A direção de fotografia é de Beto Martins, que colaborou recentemente com o longa A História da Eternidade, de Camilo Cavalcanti. Marcelo também vai trabalhar com o filho de Ronaldo, o músico Tomás Brandão (trilha sonora), e com Diogo Balbino (diretor de arte) e Andrea Monteiro (figurino).

Um dos pontos fundamentais da preparação para as filmagens foi a escolha das atrizes. “Gilda tem experiência no teatro e no cinema, enquanto Malu tem uma trajetória bonita nos palcos. As duas são muito expressivas. O meu cuidado é que o filme não fique muito teatral, mas não vou tirar o espaço para elas atuarem livremente – as duas é que vão sustentar o filme até o fim. A interação entre elas ficou muito natural”, revela Marcelo.

Para compor o curta-metragem, que deve ter cerca de 15 minutos, Marcelo vai aliar as possibilidades da ficção com sua paixão pelo olhar documental, realista. “Quando entrei no cinema, pensava que faria só filmes ficcionais. Acabei me apaixonado pelo documentário”, conta. Uma de suas intenções é deixar o filme contemplativo. “Gosto de cenas com respiro”, atesta.

DIÁLOGO
A parceria para compor a versão cinematográfica de Duas Mulheres em Preto e Branco teve uma boa dose de troca de ideias, especialmente para compor o passado das personagens. A história se passa quase inteiramente dentro em um quarto em que as duas mulheres conversam, entre lágrimas e um tapa. A amizade, que se iniciou quando as duas eram estudantes de Medicina durante a ditadura militar, vai sendo relembrada para revelar a raiz dessas mágoas.

“A narrativa ajudar a mostrar o passado tanto dessas duas amigas como do Brasil”, explica o diretor Marcelo Brennand. “O filme se concentra principalmente no apartamento. O passado aparece mais por meio de colagens.”
Como Ronaldo foi estudante de Medicina nesse mesmo período, o diálogo inicial foi propício. “Eu conversei com ele para entender melhor o ambiente dessa esquerda ‘festiva’, mais comportamental que política, de que elas fizeram parte”, conta Marcelo.

Apesar disso, ambos ressaltam que o filme foi desenvolvido com independência. Ronaldo, por seu lado, confessa não estar ansioso para ver a nova adaptação. “Eu só fico com vontade de ver o filme. Para mim, Duas Mulheres já é propriedade de Marcelo. Ele vai dar a forma da sua leitura para o filme. Eu fiquei felicíssimo que ele gostou do conto, que quis se apropriar dele. Eu fiz o texto, e o que virá já a versão de Marcelo, com o olhar dele. Quero ver como ele sentiu essas personagens que eu senti tão intensamente”, aponta.

Além dessa versão de Duas Mulheres, Ronaldo espera outras obras suas chegaram ao cinema ou a TV. Três roteiros baseados no conto Mentiras de Amor, de Faca foram aprovados para virarem curtas na França, a partir de um convite do Festival de Cinema de Curta-Metragem de Rennes, no ano passado.

Além disso, o projeto Conto Que Vejo, que reúne diretores como Hilton Lacerda, Lírio Ferreira e Marcelo Pedroso, vai criar também uma versão própria de Mentira de Amor para a TV – a série inclui narrativas de outros autores, como Sidney Rocha, Antonio Carlos Viana, Hermilo Borba Filho e do próprio Hilton Lacerda.

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