Depois do sucesso de Boi Neon, de Gabriel Mascaro, exibido no primeiro fim de semana do Festival do Rio, na Mostra Première Brasil, a vez agora é de A Seita, de André Antônio, o primeiro longa-metragem do coletivo Surto e Deslumbramento, que concorre na Mostra Novos Rumos. De amanhã até domingo, o filme terá três sessões oficiais.
Com apenas dois anos de atividade, o coletivo – uma brincadeira com o cearense Alumbramento – modifica a cena atual do cinema pernambucano por meio de um olhar até então inédito. Pela primeira vez, um grupo de jovens realizadores se une em torno de suas opções sexuais e mostra que o cinema gay – ou queer, como também é conhecido – já conquistou o seu espaço.
Criado pelos amigos Rodrigo Almeida, André Antonio, Chico Lacerda e Fábio Ramalho, o coletivo já realizou cinco curtas-metragens e um longa. Este ano, dois curtas já foram premiados: Virgindade, de Chico Lacerda, ganhou o Kikito de Melhor Montagem no Festival de Gramado, e Como Era Gostoso o Meu Cafuçu, de Rodrigo Almeida, que na semana passada foi considerado, pelo Júri Popular do Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte, o melhor filme da competição.
A Seita, que está apenas sua carreira nos festivais, foi produzido pela jornalista Dora Amorim. “Eu conheci André quando trabalhávamos juntos no Janela Internacional de Cinema do Recife. Ele me convidou para o projeto, que havia sido aprovado pelo Edital do Audiovisual/Funcultura como curta-metragem”, relembra Dora.
“Tivemos apenas R$ 67 mil para produzir o filme, que foi rodado durante uma semana, em março deste ano. Esse foi o primeiro filme que o coletivo teve dinheiro de fora para fazer, todos os curtas anteriores foram realizados com recursos próprios. A experiência deu muito certo e devemos fazer outros filmes”.
Ficção-científica que olha o futuro do Recife impregnado pelo passado, A Seita se passa em 2040, quando a cidade foi praticamente abandonada, pois a maioria da população mudou-se para colônias espaciais. Saudoso da paisagem que fez parte de sua vida, um jovem rico volta ao Recife, onde se instala numa casa repleta de objetos antigos (cortesia da brilhante direção de arte de Thales Junqueira), até que descobre sinais de uma seita nos muros da cidade.
“Eu queria criar uma nova cidade, que mesmo em ruínas é ainda muita bela, mas não queria que fosse um filme de denúncia. O personagem principal, interpretado por Pedro Neves, é decadentista e hedonista, ele vê o futuro do Recife como uma repetição do passado”, explica o diretor André Antônio.
Vagando pelo Recife, o personagem encontra a cidade quase destruída, com muitas casas e prédios abandonados. “Eu fiz questão de mostrar o abandono do Colégio Marista, onde estudei”, revela André. Mesmo em ruínas, o jovem encontra namorados nesse lugares ermos, quase sempre levando-os para casa. “Ele não é romântico e eu queria trabalhar com um personagem de difícil identificação, que gerasse atritos”.
