Embora tenham questões em comum com os cineastas pernambucanos da geração pós-retomada, os realizadores do coletivo Surto e Deslumbramento, formado Rodrigo Almeida, Chico Lacerda, André Antonio e Fábio Ramalho (já com alguns agregados) estampam em seus filmes, com o máximo de liberdade e humor, o fato de serem "gays, bichas ou viados". Sem se aterem a rótulos fossilizados e preconceitos secularizados, os membros do S&D fazem filmes que fogem à provocação fácil, ou seja, eles não estão "fazendo fita".
Depois de participações em festivais prestigiados, fora do circuito de visibilidade, três filmes do coletivo ganham exibições no Janela Internacional de Cinema do Recife. Neste domingo, às 21h40min, no Cinema São Luiz, será apresentado A Seita, de André Antonio, o primeiro longa-metragem do grupo, que concorreu na Mostra Novos Rumos, do Festival do Rio, há menos de um mês.
Ainda na programação, no bloco Três Filmes Safados, vão ser mostrados os curtas Como Era Gostoso Meu Cafuçu, de Rodrigo Almeida, e Virgindade, de Chico Lacerda. O terceiro filme é Soledad, de Daniel Bandeira, Joana Gatis e Flavia Vilela, que faz um contraponto heterossexual ao programa.
Em A Seita, André Antônio questiona a destruição do espaço urbano num enredo de ficção científica, como se o futuro tivesse a cara do passado. A estranheza é que tal passado é, visivelmente, o nosso presente. O narrador do filme é um jovem gay (Pedro Neves), um tanto dândi e hedonista, que volta para Recife, decadente e em ruínas, mas que ainda o fascina. Deambulando pela cidade e em encontros sexuais casuais, ele descobre, por meios de sinais deixados nos muros, a existência de uma seita. Depois do filme, André Antônio participa de um debate.
Os filmes do Surto e Deslumbramento estão forçando novos questionamentos, como a pergunta que não calar: quantos "cinemas" há dentro do cinema pernambucano atual? Dada a explosão da produção audiovisual dos últimos cinco anos - ou talvez oito, se a baliza for o Edital do Funcultura -, o rótulo "cinema pernambucano" já não dá conta dos vários modos de pensar e fazer filmes no Estado.
Nem mesmo o cinema do grupo "duro" do anos 1990, representado principalmente por Cláudio Assis, Paulo Caldas, Lírio Ferreira e Marcelo Gomes, não é o mesmo capitaneado por Kleber Mendonça Filho, Gabriel Mascaro, Marcelo Lordello, Marcelo Pedroso, Tião e Leonardo Lacca, por exemplo, que explodiu no final da última década. Entretanto, a vitalidade tem sido uma marda de cada geração.
Programação de domingo (8/11)
CINEMA SÃO LUIZ
11h | FANTASIA, Norm Ferguson, 1940 – 125 min
14h30 | CLÁSSICOS: Amor Sublime Amor, 1997 – 154 min
17h30 | Competitiva Curtas Nacional 1: Acerto de Contas – 76 min
19h45 | COMPETITIVA LONGAS: Aspirantes, Ives Rosenfeld – 71 min
21h40 | ESPECIAL: A Seita, André Antônio, 2015 – 70 min + debate
Cinema da Fundação
14h | British Gothic (Gótico Britânico): A Companhia dos Lobos, Neil Jordan, 1984 – 95 min
16h | Competitiva Curtas Internacional 1: Territórios – 86 min (reprise)
18h | ESPECIAL: Ralé, de Helena Ignez, 73 min + debate
20h15| CLÁSSICOS: JACKIE BROWN, Quentin Tarantino, 1997 – 154 min
CINEMA DO MUSEU
15h | ESPECIAL: Cemitério do Esplendor, Apichatpong Weerasethakul – 122 min
17h30 | Competitiva Curtas Internacional 2: De Cá/De lá – 76 min
19h15| COMPETITIVA LONGAS: O Tesouro, Corneliu Porumboiu – ROM – 89 min
21h15| CLÁSSICOS: CRÍA CUERVOS, Carlos Saura, 1976 – 110 min