CINEMA

"A Grande Aposta" transforma crise em humor

Provável candidato à 88ª edição do Oscar na categoria Melhor Filme, A Grande Aposta entra em circuito comercial nesta quinta-feira (14)

Mari Frazão
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Mari Frazão
Publicado em 13/01/2016 às 6:01
Jaap Buitendijk/Paramount Pictures
Provável candidato à 88ª edição do Oscar na categoria Melhor Filme, A Grande Aposta entra em circuito comercial nesta quinta-feira (14) - FOTO: Jaap Buitendijk/Paramount Pictures
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Não raras vezes, a realidade flerta com o absurdo. Partindo deste fato, o diretor Adam McKay utiliza o deboche como fórmula para reconstruir a crise econômica que assolou o mundo em 2007. Veterano em comédias, com Tudo por um Furo (2013) e O Âncora: A Lenda de Ron Burgundy (2004) no currículo, o americano explora o humor para dar fluidez ao seu novo longa, A Grande Aposta. 

Em meio a tantos jargões de economia, o filme tinha tudo para ser um drama entediante, mas é a escolha da narrativa não-convencional que dá leveza ao conjunto: a grande jogada de McKay é inserir elementos da cultura pop no enredo. O assunto é abordado com clareza através de cenas descontraídas, com celebridades que estão mais próximas da nossa realidade explicando termos econômicos – como Selena Gomez trocando em miúdos como acontecem as apostas no mercado, a atriz australiana Margot Robbie tomando espumante na banheira enquanto fala sobre subprimes (créditos de risco concedidos a um tomador que não oferece garantias suficientes para se beneficiar da taxa de juros mais vantajosa) e swaps (trocas de risco sobre operações financeiras), ou o chef Anthony Bourdain explicando como o mercado funciona em situações de crise. 

Baseado no livro de não-ficção The Big Short: Inside the Doomsday Machine, de Michael Lewis (lançado no Brasil como A Jogada do Século: The Big Short – Os Bastidores do Colapso Financeiro de 2008.), a comédia é só um meio para um fim: não há graça em um colapso econômico. A narrativa inicia antes da crise emergir e acompanha a vida de investidores que previram a situação antes dela se alastrar. Steve Carell, Ryan Gosling, Christian Bale, John Magaro, Brad Pitt e Finn Wittrock são alguns dos nomes que formam o elenco estelar do filme. O objetivo em comum a quase todos eles é enriquecer às custas do naufrágio do sistema, independentemente do impacto que isso possa causar na sociedade. 

Carell, indicado ao Globo de Ouro de Melhor Ator de Comédia ou Musical, é quem dá vida ao personagem-dilema dessa fábrica fraudulenta de sonhos: seu semblante cansado denota o pesar de quem enxerga as coisas acontecendo ao seu redor. Bale é a veia mais gélida do longa: um workaholic sem tato para as relações humanas, que trabalha desleixado enquanto escuta heavy metal para raciocinar. Cabe a Gosling o papel mais irônico da trama, e também o mais arrogante: o personagem não tem pudores para conquistar seus objetivos. O ponto de convergência entre todos eles é que suas vidas pessoais estão em segundo plano. À exceção de Marisa Tomei, que faz uma breve participação como esposa de Carell, filhos, mães e esposas aparecem apenas em diálogos, fotos e em off. A presença feminina ao longo dos 131 minutos de filme, por sinal, se restringe unicamente a Marisa, Selena e Margot, todas em aparições meteóricas. 

Provável candidato à 88ª edição do Oscar na categoria Melhor Filme, A Grande Aposta entra em circuito comercial amanhã.

Veja o trailer: 

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