CINEMA

Oscar 2016: Trumbo e a incansável luta contra a castração ideológica

Filme com astro de Breaking Bad traz roteirista premiado que entrou na lista negra de Hollywood

Mari Frazão
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Mari Frazão
Publicado em 27/01/2016 às 7:30
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Filme com astro de Breaking Bad traz roteirista premiado que entrou na lista negra de Hollywood - FOTO: Divulgação
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Jay Roach, diretor de Trumbo: Lista Negra, é dono de um currículo admirável para quem gosta de comédias, mas talvez não muito atraente para quem não é fã do gênero. Responsável por grandes sucessos de bilheteria, entre os trabalhos do estadunidense estão as franquias Entrando Numa Fria e Austin Powers. A cinebiografia do roteirista Dalton Trumbo, que estreia nesta quinta-feira (28) nos cinemas, é um ponto destoante na carreira de Roach: desta vez, o cineasta mergulha em um drama sério e elegante em defesa da liberdade de pensamento.

Baseado em fatos reais, narrados no livro homônimo de Bruce Cook, Trumbo remonta ao período de "caça às bruxas" em Hollywood - parte fundamental do movimento de perseguição política liderado pelo senador Joseph McCarthy na década de 1950. Um dos roteiristas mais bem pagos dos anos 1940, Trumbo (Bryan Cranston) era também membro do Partido Comunista e se recusou a delatar outros esquerdistas da indústria cinematográfica. Condenado por desobediência civil, o escritor foi inserido no que hoje conhecemos como a Lista Negra ou Os Dez de Hollywood. Fadado a não conseguir trabalho, graças a um sistema intolerante e hipócrita, Trumbo viu-se afundado em dívidas e passou a escrever sob pseudônimos. Por baixo dos panos, escreveu cerca de trinta roteiros - inclusive de obras premiadas como A Princesa e o Plebeu (1953), Arenas Sangrentas (1958), Spartacus (1960) e Exodus (1961).

Ao longo de uma incansável luta contra a castração ideológica, o espectador acompanha os bastidores de clássicos da Sétima Arte; mergulha em um período de opressão, no qual uma comissão formada para investigar a suposta infiltração de comunistas na indústria do cinema criminalizou o ato de pensar; além de conhecer a crescente obsessão do roteirista pelo trabalho, que acaba por minar sua família.  

Bryan Cranston, astro maior da eletrizante série Breaking Bad, entrega uma das melhores atuações de sua carreira. Fazendo jus à indicação ao Oscar de Melhor Ator, Cranston pode, inclusive, dificultar a tão sonhada estatueta de Leonardo DiCaprio, concorrente por O Regresso. Na outra ponta do elenco, Ellen Mirren (A Rainha) enaltece a produção como Hedda Hopper, uma renomada colunista de Hollywood. A dama britânica interpreta com maestria a principal antagonista da trama, deixando aflorar a mentalidade enfurecida do período de perseguição macarthista. 

Voltando a um Brasil em tempos de intolerância partidária, onde uma polarização radical ganha espaço com a liberdade de expressão das redes sociais, ao mesmo tempo em que tenta amordaçar o pensamento alheio, Trumbo é um lembrete de que ideais devem ser respeitados: discutidos, contestados, mas não impostos.

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