ISLANDÊS

A Ovelha Negra mostra dois irmãos que precisam se unir para salvar seus rebanhos

Diretor Grímur Hákonarson diz que o filme é uma ficção que ele tentou desenvolver com olhar de documentarista

Luiz Carlos Merten/Agência Estado
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Publicado em 11/02/2016 às 11:05
Imovision/Divulgação
Diretor Grímur Hákonarson diz que o filme é uma ficção que ele tentou desenvolver com olhar de documentarista - FOTO: Imovision/Divulgação
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Grímur Hákonarson esteve na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 2015 exibindo seu longa A Ovelha Negra, que venceu o prêmio da seção Un Certain Regard no Festival de Cannes - e estreia em alguns cinemas brasileiros nesta quinta-feira (11/2). Quem presidia o júri era a atriz Isabella Rossellini, filha de dois mitos. A também atriz Ingrid Bergman, que foi homenageada dando seu rosto ao pôster do evento, e o diretor Roberto Rossellini, um dos grandes nomes do neorrealismo. Na apresentação do prêmio, Isabella destacou a simplicidade da grande arte. Disse que filmes não precisam de recursos, mas de coração.

Todo mundo tem sua fórmula, ou forma, e a de Isabella não é a única, mas vale. Grímur Hakonárson é islandês e adorou a feijoada da 39ª Mostra. E foi tomando uma caipirinha, que achou deliciosa, que conversou com o repórter. Seu filme é sobre dois irmãos criadores de ovelhas. Afastaram-se na vida, cada um seguiu seu caminho. Não se falam mais. Mas agora precisam se unir para evitar a destruição de seus rebanhos. Tudo começa quando a ovelha de um deles, de estimação, apresenta sinais de um vírus.

Grímur sabe sobre o que está falando. "Meus pais moravam numa fazenda na zona rural da Islândia. Meu avô criava ovelhas. Estou familiarizado com a atividade, que sempre fez parte da minha vida, mas não é a história da minha família. É uma ficção que tentei desenvolver com um olhar de documentarista", explica.

Mesmo num país pequeno como a Islândia, você pode fazer documentário com equipe reduzida. Para ficção, já é preciso mais gente. "É até difícil explicar. Sempre tivemos cinema na Islândia, uma lei de financiamento que não mudou. O que mudou talvez seja a mentalidade. Há uma nova geração de diretores, a qual pertenço. Queremos fazer nossos filmes com sinceridade e simplicidade. São filmes baratos. Estamos tendo a sorte de ganhar projeção em festivais. E somos amigos - Runar Runársson, Benedikt Erlingsson, Dagur Kári. Dagur e eu somos amigos de frequentar as mesmas festas. Vivemos conversando sobre nossos projetos e filmes. Não há competição, mas camaradagem".

Falar de ovelhas para falar de homens é uma decorrência da própria realidade da Islândia. "Nossa população de ovelhas é maior que a humana, mas, no fundo, o que me interessa é o drama familiar. Armei uma história que me parecia verdadeira, sem ser complicada. Concentração de personagens, de ambientes. O cenário é quase único. As complicações terminaram vindo durante a filmagem. Inverno, animais, não só as ovelhas, mas o cachorro. Todo dia havia um problema para resolver, mas a equipe pegava junto. Havia muita gente jovem também querendo aprender, fazer", conta o diretor.

Os elementos do drama são simples - a ruptura e a união familiar, o cachorro que transita entre os irmãos, um trator que terá um papel importante na evolução da narrativa. E o filme tem humor, alguma surpresa. Tem uma cena de nu. "Fiquei surpreso em Cannes com a curiosidade pela cena. Aquilo é tão natural para a gente", comentou.

A mesma surpresa ele experimentou diante de tantas perguntas sobre as ovelhas. "Elas não são apenas um meio de produção e trabalho. Os pastores vivem isolados. As ovelhas tornam-se o seu divertimento. Elas são o nosso divertimento, enquanto povo. Há uma tradição que faz das ovelhas personagens decisivas de contos clássicos da Islândia."

 

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