A pouco mais de uma semana para a cerimônia de entrega do Oscar 2016, o círculo dos longas-metragens indicados à estatueta de Melhor Filme do Ano se fecha nesta quinta-feira (18/2) com a estreia de O Quarto de Jack, que ainda concorre em mais três categorias: Melhor Atriz (Brie Larson), diretor (Lenny Abrahamson) e Melhor Roteiro Adaptado (Emma Donoghue, também autora do livro em que se baseia o filme).
Nos últimos anos, o cinema tem contado histórias terríveis, muitas saídas da vida real, sobre crianças e mulheres raptadas e mantidas em cativeiro por seus agressores. Em Michael, o austríaco Markus Schleinzer acompanhou a vida de um pedófilo que sequestra um menino e o mantém preso num porão. No francês De Volta para Casa, de Frédéric Videau, uma adolescente é aprisionada por um homem, que acredita que só assim ela irá se apaixonar por ele.
Em O Quarto de Jack, algo semelhante aconteceu à adolescente Joy (Brie Larson), que há sete anos é escrava sexual do Velho Nick (Sean Bridgers). Mas o que chama a atenção, pelo menos em sua maior parte, é que o ponto de vista narrativo do filme é de Jack (o incrível Jacob Tremblay), que só vê e entende o mundo com as poucas informações passadas pela mãe e pelo que aprendeu na TV.
Embora a primeira parte tenha tempos mortos e uma trilha sonora que acentua o ritmo lento, existe uma dinâmica e um sentido de suspense que não deixam o espectador de fora. O Quarto de Jack tem sua reviravolta quando a mãe ludibria o sequestrador e consegue fazer com que Jack fuja do abrigo. A vida após o cativeiro não será das mais fáceis. Afinal, a liberdade será posta em xeque com cobranças familiares, procedimentos médicos e psicológicos, e até repercussões midiáticas (o caso, claro, cai nas graças dos programas sensacionalistas de TV, com direito a entrevistas pagas da mãe).
Longe das convenções dramáticas e manipuladoras, comum a tantos filmes, Abrahamson toca o coração da plateia com sutileza. A partir das reações de Jack, do seu encantamento com o mundo real e da comparação do que conhecia, o diretor irlandês explora uma emoção que se poderia chamar de genuína. Para um mundo saturado de tantos clichês, isso não é pouca coisa.