Charlie Kaufman é um dos roteiristas mais influentes de Hollywood atualmente. O nome do estadunidense pode não ser tão conhecido entre os menos aficionados por cinema, mas mesmo estes certamente já assistiram ou, ao menos, ouviram alguma referência ao filme Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (2004), estrelado por Jim Carrey. O hit cinematográfico do diretor Michel Gondry é uma das obras mais admiradas do portfólio de Kaufman, premiado com o Oscar de Melhor Roteiro Original em 2005, assim como os scripts dos festejados Quero ser John Malkovich (1999) e Adaptação (2002). Neste ano, o escritor entrou mais uma vez para a lista de indicados ao maior prêmio da indústria cinematográfica – desta vez pela animação em stop-motion Anomalisa, dirigida, roteirizada e produzida por ele.
Kaufman é um catalisador de opiniões adversas: enquanto uns ovacionam sua criatividade, outros o repudiam. Quando anunciou seu novo projeto, com campanha de financiamento coletivo no Kickstarter, ele prometeu uma produção ímpar, causando excitação entre os fãs. No entanto, Anomalisa – financiado e finalizado através de crowdfunding, uma versão online e em grande escala da conhecida “vaquinha” – não apresenta elementos originais entre os conflitos da existência humana presentes nos outros trabalhos do roteirista. Exceto pelas cenas de sexo e nudez frontal implementadas em uma “animação para adultos”, o filme pouco difere de sua obra habitual. Durante os 90 minutos de película, o expectador espera ser arrebatado por uma história que simplesmente não decola. Quando, enfim, os fatos parecem assentar, já é tarde e faltam poucos minutos para os créditos, culminando em uma conclusão vaga e insatisfatória.
Na trama, Michael Stone (David Thewlis) é um palestrante motivacional em crise existencial. Alheio a tudo ao seu redor, a ponto de não conseguir manter um diálogo com um taxista nos primeiros momentos do filme, Stone encontra no adultério uma forma de fugir de sua bolha. Celebridade no mundo corporativo e autor de um livro aclamado, Stone se acaba envolvendo com uma de suas fãs, Lisa (Jennifer Jaison Leigh).
Embora Anomalisa seja um dos filmes mais acessíveis da carreira de Kaufman e percorra um caminho semelhante ao de seus trabalhos anteriores, a impressão é que algum ingrediente vencido – talvez a ausência de emoção e criatividade, das quais seu nome é praticamente sinônimo – não dá à película espaço para se sobressair.
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