CINEMA

Breno Silveira encontra sua Maria Bonita

Cineasta acabar de filmar A Costureira e o Cangaceiro em locações no Recife, Olinda e no Sertão de Pernambuco, Alagoas e Sergipe

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 04/12/2016 às 9:40
Victor Jucá/Divulgação
Cineasta acabar de filmar A Costureira e o Cangaceiro em locações no Recife, Olinda e no Sertão de Pernambuco, Alagoas e Sergipe - FOTO: Victor Jucá/Divulgação
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Breno Silveira nasceu em Brasília, em 1964, e estudou cinema na França, na década de 1980. Depois de uma rica experiência como cameraman de Eduardo Coutinho, ele foi convidado por Carla Camurati para dirigir a fotografia de Carlota Joaquina, em 1995, o longa que entrou para a história como o primeiro marco da retomada do cinema brasileiro. Até 2005, já como sócio da produtora Conspiração, burilou os filmes dos colegas (Traição, Eu Tu Eles e O Homem do Ano) e dirigiu 2 Filhos de Francisco, que levou mais de 5 milhões de brasileiros aos cinemas.

Desde 2012, quando realizou a biografia Gonzaga - De Pai para Filho, sobre a relação conturbada entre Luiz Gonzaga e Gonzaguinha, Breno ficou mais instigado pelo solo calcinado do Nordeste e de Pernambuco, onde nasceu o avó paterno. Antes de concluir a produção, ele já tinha em mente a ideia do seu próximo projeto: levar para o cinema a história da lendária Maria Bonita, a mulher de Virgolino Ferreira, vulgo Lampião.

"Comecei a pesquisar e conversei com Frederico Pernambucano de Mello para saber qual a era a história de Maria Bonita. Eu não queria fazer um filme na primeira pessoa, mas com alguém que contasse a história dela. Mas ele me disse que havia poucos registros de Maria Bonita. Fiquei um pouco decepcionado, pois eu não queria contar a história dela através de Lampião", conta Breno, por telefone, uma semana depois de passar uma temporada entre o Recife e Olinda, onde filmou o longa-metragem A Costureira e Cangaceiro, a história de uma possível versão de Maria Bonita, tendo como o base o romance homônimo de Frances de Pontes Peebles, uma escritora pernambucana que mora nos Estados Unidos.

Apesar de versado em biografias, Breno conta que é dificil fazer filmes sobre pessoas. Para se evitar polêmicas, a vida dos biografados servem como inspiração para os personagens do filme. Foi essa constatação que fez com que ele se interessasse pela história das duas irmãs pernambucanas, de Taquaritinga do Norte, que têm suas vidas mudadas quando uma delas é sequestrada por um cangaceiro, enquanto a outra arranja um casamento e vem morar no Recife. "Ela se inspirou em personagens reais, mas Lampião não é Lampião, é Carcará, nem Maria Bonita é Maria Bonita, é Luzia. São personagens criados a partir da história do cangaço, em que ela misturou características de vários cangaceiros, como também misturou Maria Bonita com Dadá. Eu achei a história bonita, apesar de muita pesada, contada pelos olhos das duas irmãs", explica.

ZEPPELIN

As filmagens no Recife e em Olinda contam a história de Emília, interpretada por Marjorie Estiano, e se passa em 1930. Entre as principais locações, Breno voltou a um solo sagrado para ele, o Marco Zero, onde já havia filmado uma cena de Gonzaga - De Pai para Filho, quando o músico, nascido em Exu, se apresentou pela primeira vez na capital pernambucana. É no Marco Zero que Emília, o marido e a família dele, membros da burguesia da recifense, vão assistir à passagem do Graf Zeppelin nos céus do Recife, enquanto populares entram em refrega com soldados do governo de Getúlio Vargas. "O Zeppelin foi criado de acordo com fotos da época e está muito bonito. Mas o que me deixou feliz foi ver toda essa área do Recife Antigo tão bem preservada, com as mesmas características da época. É um exemplo para o Brasil ver empresários e governo empenhados em manter imóveis antigos. O Palácio do Campo das Princesas está em perfeito estado de conservação. Em Olinda, o casario antigo permite filmar num quarteirão inteiro", se entusiasma Breno, ao falar das locações recifenses e olindenses.

SERTÃO

Antes de vir para o Recife, Breno e equipe passaram uma temporada no sertão, às margens do Rio São Francisco, filmando as cenas que envolvem as aventuras da costureira Luzia (Nanda Costa), que é sequestrada pelo cangaceiro Carcará (Júlio Machado). É nesse momento que a vida das irmãs Luzia e Emília, que vivem sós após a morte da tia (Cyria Coentro), tomam um novo rumo. Sempre sonhadora, Emília acredita que seu destino é ir para a cidade grande, enquanto Luzia, fechada e de baixa autoestima - devido a uma acidente na infância, o braço dela ficou paralisado" -, ela não se importa quando é levada à força pelo cangaceiro.

"Por causa do problema do braço, ela é conhecida como Vitrola, mas isso impulsiona-a a superação. Esse personagem é um dos mais legais que já fiz e foi escrito especialmente para mim. Todas as vezes em que eu encontrava Patricia Andrade, no Rio, ela me dizia as cenas que estava escrevendo. Isso foi um luxo para mim", revela a triz que veio ao Recife apenas para acompanhar as filmagens.

As cenas dela foram filmadas em externas em pequenas cidades sertanejas de Pernambuco, Sergipe e Alagoas durante um mês e meio. Uma das principais locações foi a cidade de Piranhas, em Alagoas. Luzia é levada por Carcará, que, mesmo a contragosto, acredita que ela poder trazer sorte e ajuda o grupo, costurando as roupas dos cangaceiros. "Eu me preparei muito, decorei todo o roteiro, mas quando cheguei no Serão me libertei. O Sertão é um dos protagonistas do filme tanto quanto os atores" comenta Nanda.

A atriz, nascida em Petrópolis, já é uma velha conhecida dos pernambucanos. Em 2012, ela passou dois meses no Recife quando interpretou uma estudante secundarista e musa de um poeta em de Febre do Rato, de Cláudio Assis. "Um dos momentos mais incríveis que passei na minha vida foi quando os policias quase prenderam eu e Iranhdir Santos por causa de uma cena de nu na Rua da Aurora", relembra Nanda.

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