Ontem pela manhã, Tizuka Yamasaki, 68 anos, pelo menos dez longas no currículo, olhava o céu do do Recife e comemorava: “Deus deve ser mulher!”. Com a trégua das águas de julho, a antiga assistente de direção de Glauber Rocha pôde concluir a parte ficcional do tele-filme 1817 - A Revolução Esquecida. Cenário histórico onde estiveram presos os revolucionários, o Forte das Cinco Pontes foi a locação do docudrama sobre o levante em que Pernambuco, insatisfeito por ter que bancar a ostentadora corte portuguesa no Rio de Janeiro, ficou independente por quase 90 dias.
"Eu conhecia pouco a história de 1817. Pelas consequências, teve mais contundência que a Inconfidência Mineira. É, de fato, uma revolução esquecida", dizia, logo depois da filmar, o veterano ator paraibano Paulo Vieira. Um dos poucos atores profissionais escalados para o set ontem, Vieira protagonizou a cena mais importante do dia. Ao interpretar Leão Coroado, deu corpo à cena em que o capitão mata com golpes de espada o brigadeiro Barbosa de Castro, vivido por Walmir Chagas - o fato que dá origem à revolução. Capitaneado pelos paulistanos Klara Castanho e Bruno Ferrari, o filme conta com 24 atores pernambucanos. O músico Lailson, por exemplo, faz o governador Caetano Pinto. Mas, ontem foi, sobretudo, um dia da figuração.
Do lado de fora, a produtora executiva Camila Valença parecia aliviada pelo cumprimento do cronograma. Enquanto isso, a também produtora Mônica Silveira, responsável pela articulação institucional com o Governo do Estado, se desdobrava em telefonemas para checar horários e chegada de ônibus, brincantes de maracatus e até animais. Do lado de fora, o capitão Gustavo Farias, 38, segurava dois portentosos cavalos diante do fosso que dá acesso ao forte. Os animais são da Cavalaria da Polícia Militar. “Tizuka é ótima como diretora. A gente espera muito para entrar em cena, é cansativo, mas recompensador de ver o filme sendo feito”, disse ele.
ESTUDANTES NA REVOLUÇÃO
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Antes de o capitão Gustavo poder entrar com seus cavalos, alunos da escola estadual Olinto Vitor eram filmados numa sala do primeiro andar. “Nós vamos fazer uma espécie de visita ao museu, usando a farda do colégio”, dizia a aluna Isabele Lucena, 19, roteirista do projeto pelo qual ela e quase trinta colegas foram convidados para figurar. Os estudantes produzido, usando apenas celulares, um curta-metragem sobre a revolução. No meio da cena, os alunos transformados recebiam a presença repentina do Leão Coroado vivido por Paulo Vieira.
Mais cedo, o chef de cozinha Rodrigo Vieira, 25, morador de Fernando de Noronha, trocava uns dias de suas férias para figurar como militar da repressão. “Primeiro a perna direita, depois a esquerda”, ordenava a diretora, também responsável pela carreira de atores como Xuxa Menenghel, Sandy e Júnior no cinema, tentando fazer com os soldados sincronizassem a marcha em close. Depois, a chuva desabou rapidamente. O tempo voltou a estiar logo depois do almoço - indicando, de alguma forma, o bom crédito da diretora com os céus.