CINEMA

Blade Runner 2049 está a altura do primeiro filme, feito há 35 anos

Continuação, dirigida pelo canadense Dennis Villeneuve, estreia nesta quinta-feira (5/10) nos cinemas brasileiros

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 05/10/2017 às 7:26
Warner Bros/Divulgação
Continuação, dirigida pelo canadense Dennis Villeneuve, estreia nesta quinta-feira (5/10) nos cinemas brasileiros - FOTO: Warner Bros/Divulgação
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Com a moda de remakes e sequências que o cinema americano encampou para conquistar fãs de todas as idades, muitos filmes que jaziam intocados em sua rigidez artística e aurática tiveram seus dias de descanso contados. Para muitos cinéfilos de cabelos brancos – ou sem cabelo nenhum –, a já clássica ficção-científica Blade Runner – Caçador de Androides, de Ridley Scott, que parecia olimpicamente intocada, tem a sua continuação lançada hoje, 35 anos depois do primeiro filme.

Uma das principais estreias do ano, Blade Runner 2049, dirigido pelo canadense Denis Villeneuve, faz jus ao seu predecessor. O filme não só respeita seu status de cult pós-moderno, mas leva a sério as premissas filosóficas levantadas pelo escritor Philip K. Dick, autor do romance original, sobre futuro distópico, inteligência artificial e clonagem humana. Com Ridley Scott, Harrison Ford e Hampton Fancher – corroteirista do filme original e autor da nova história – envolvidos na produção, Blade Runner 2049 é um convite para fãs e novos espectadores embarcarem numa hipnótica e lisérgica aventura pelos meandros da interação entre o homem e sua vontade de se tornar criador de si mesmo.

Em termos estéticos e na apresentação da cidade de Los Angeles, Villeneuve não sai dos trilhos sedimentados por Ridley Scott. O visual continua sendo uma ferramenta de distinção, ao mostrar um L.A. ainda povoada no centro da cidade, com seus prédios gigantescos, muitas propagandas e uma área industrial abandonada. O apuro do novo filme não deixa nada a desejar, principalmente no quesito visual, a cargo do cinematografista britânico Roger Deakins (frequentemente associado às texturas cromáticas dos irmãos Joel e Ethan Coen).

Apesar de ter seu nome ligado a muitos filmes onde a trilha sonora é por demais invasiva, o alemão Hans Zimmer, na companhia do britânico Benjamin Wallfisch, compuseram uma partitura que não foge aos timbres criados pelo grego Vangelis, uma marca inesquecível do filme realizado em 1982. Direção de arte, fotografia e trilha sonora dão o estofo necessário a uma complexa, bem desenvolvida e envolvente história, que expande tudo o que conhecemos e que vai ainda mais além, com surpresas e reviravoltas milimetricamente estudadas para fazer com que os espectadores não tirem os olhos da tela por quase três horas.

DECKARD

São 30 anos que separam as ações dos dois filmes. Em termos mais comuns, Blade Runner 2049 é um policial noir futurista, assim como era o filme anterior. Agora temos o investigador K (Ryan Gosling), da Polícia de Los Angeles, que, como Rick Deckard (Harison Ford), trabalha numa unidade de caça a replicantes, ainda da mesma série Nexus 8. Em 2049, os replicantes não causam mais problemas, são obedientes e não têm ideias próprias. A mente por trás de tudo é Niander Wallace (Jared Leto), um cientista que continua as pesquisas com replicantes da Tyrrel Corporation. Seguindo ordens da tenente Joshi (Robin Wright), K segue para uma fazenda para tirar de circulação o agricultor Sapper Morton (Dave Bautista), que seria um dos velhos Nexus 8 a ser removidos. Um achado no quintal de Sapper vai levar K a uma jornada em que ele, um robô consciente, duvidará de seu próprio lugar no mundo.

Silencioso e solitário, o policial, apesar de durão, tem um relacionamento com uma namorada em forma de holograma. Essa faceta romântica entre os personagens, humanos ou não, pouco importa, está mais presente nesse filme. Há um momento muito diferente quando Joy (a cubana Ana de Armas), a mulher holograma de K, se acopla à prostituta Mariette (Mackenzie Davis), num inusitado ménage à trois.

Com mais tempo para se alongar em seus temas, especialmente a possibilidades de os replicantes virarem uma espécie, Blade Runner 2049 vai muito além da reciclagem para se adiantar em novas divagações. Embora o ritmo seja lento, o filme é pontuado por momentos de ação, principalmente com a participação da replicante Luv (a holandesa Sylvia Hoeks), e, claro, com esperada entrada em cena do velho Rick Deckard.

Escondido num abandonado hotel de Las Vegas, ainda muito luxuoso, o policial é a chave para uma linha de raciocínio que percorre todo a trama. Mesmo sem superar o primeiro filme, Blade Runner 2049 não decepciona. Ao contrário, alimenta o que já conhecíamos e até ajuda a clarear alguns pontos obscuros da trama anterior. Assista sem medo de ser feliz

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