CINEMA

Jane Fonda: os 80 anos de uma mulher excepcional

Além de atuar, ela se destaca pela atuação política e social desde a Guerra do Vietnã

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 24/12/2017 às 9:39
Universal Pictures/Divulgação
Além de atuar, ela se destaca pela atuação política e social desde a Guerra do Vietnã - FOTO: Universal Pictures/Divulgação
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Quando ela apareceu pela primeira vez num filme, aos 23 anos, o cinema americano adentrava uma nova era, com o declínio dos grandes estúdios e do star system. Era 1960 e, três anos depois, com a morte de Marilyn Monroe, as estrelas teriam que construir uma nova constelação para brilhar. Foi nessa época, em meio a mudanças e revoluções, que Hollywood viu nascer sua última movie star: Jane Fonda, que completou 80 anos na última quinta-feira, 21.

Filha de Henry Fonda e da socialite Frances Seymour Brokaw, descendente da realeza britânica, Lady Jayne Seymour Fonda foi educada nas melhores escolas americanas e não pensava, até os 17 anos, seguir a carreira do pai, um dos atores mais queridos do país. Devido aos problemas enfrentados pelos pais, principalmente quando Henry voltou para casa depois dos serviços prestados ao Exército Americano durante a 2ª Guerra Mundial, em 1945, Jane e o irmão Peter (também ator) tiveram uma infância e uma adolescência bem sofridas.

Antes de completar 13 anos, a mãe suicidou-se num asilo. O pai escondeu a verdade deles por muitos anos. Embora os problemas continuassem depois com os sucessivos casamentos do pai, sempre com mulheres jovens, Jane fez sua primeira aparição no teatro ao lado dele, aos 17 anos, na peça The Country Girl. Repentinamente interessada em atuar, ela conheceu Lee Strasberg, o criador do Actor’s Studio, onde estudaria por três anos.

Quando estreou em Até os Fortes Vacilam, dirigido por Joshua Logan, Jane fez o papel principal, uma garota que, ao não conseguir que um aluno inteligente olhasse para ela, resolve mudar de tática: deixar de lado a beleza e se concentrar nas aulas. O ator que interpretava o estudante, seu primeiro partner na tela do cinema, foi Anthony Perkins, que, naquele mesmo ano, estourava como Norman Bates, o rapaz do clássico Psicose, de Alfred Hitchcock.

Inicialmente uma presença radiante e luminosa em comédias leves e musicais, Jane parecia quase uma namoradinha da América. Em 1965, com Dívida de Sangue, em que interpretava a professora-bandoleira Cat Ballou (título original do filme), Jane começava a se desligar do nome famoso do pai. Com Descalços no Palco, ao lado de Robert Redford, ela já era uma paixão nacional. E mundial, no ano seguinte, quando o então marido dela, o cineasta francês Roger Vadim – que já havia casado com Brigitte Bardot e Catherine Deneuve –, a lançava como um símbolo sexual em Barbarella, uma agente espacial, até hoje uma de suas personagens mais conhecidas.

OSCARS

Essa imagem de mulher linda e maravilhosa, que o mundo estava consumindo em pôsteres nas paredes dos quartos dos adolescentes, iria sofrer uma mudança radical. No começa da década de 1970, Jane engajou-se contra Guerra do Vietnã e se tornou uma militante política quase em tempo integral. A política e o cinema continuaram de mãos dadas, garantindo-lhe expressivo sucesso ao conquistar dois Oscars, que até então o pai ainda não conseguira: em 1972, ganhou a primeira estatueta ao interpretar uma prostituta, em Klute, o Passado Condena, de Alan J. Pakula; a segunda, em 1979, como a mulher de um fuzileiro que se apaixona por um sargento que voltou paraplégico da guerra, no longa Amargo Regresso, de Hal Ashby.

Embora a década de 1970 tenha sido rica em premiações, a atuação dela como militante política também foi importante, embora os soldados americanos odiassem a persona Hanoi Jane que a mídia ajudou a aplicar a ela. Jane acabaria casando com o senador Tom Hayden e faria campanha aberta a favor dos nativos americanos, das mulheres e dos panteras negras, que ela dizia ser “nossa vanguarda revolucionária. Devemos apoiá-los com amor, dinheiro, propaganda e riscos”.

Se sua vida política encaminhava-se para caminhos tortuosos, a vida artística e pessoal foi das mais tranquilas a partir dos anos 1980. No ano seguinte, atuou ao lado do pai pela primeira vez em Num Lago Dourado, de Mark Rydell, que finalmente lhe daria um tardio Oscar de Melhor Ator. O velho Henry implicara, durante anos, com o fato de a filha ter ganho o Oscar antes dele. Em 1990, quando casou-se com o magnata da imprensa Ted Turner, Jane recolheu-se e passou 15 anos longe dos holofotes. Divorciada de Turner, voltou a atuar e a falar contra o que está errado ao seu redor. Ontem como hoje, Jane ainda pode dizer: “Eu sou muitas pessoas”.

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