Símbolo-mor da era de ouro dos cinemas de rua do Recife, o São Luiz deixou os cinéfilos pernambucanos com um sentimento de orfandade por quase seis meses. A partir desta quinta-feira (10/5), a majestosa sala da Rua da Aurora, do alto de seus 56 anos de glória, volta ao convívio da vida cultural da cidade. Na sua rentrée, o São Luiz vem com a carga toda: são quatro longas-metragens e a pré-estreia do esperado documentário O Processo, de Maria Augusta Ramos, às 19h30, que estará presente à sessão para um debate com o público. Nas sessões vespertinas, entram em cartaz Quase Memória, o último filme dirigido pelo moçambicano-brasileiro Ruy Guerra, e a produção sul-africana Os Iniciados, de John Trengove. Na sexta, mais dois longas engordam a programação: o documentário Todos os Paulos do Mundo, de Gustavo Ribeiro e Rodrigo de Oliveira, e a ficção francesa Jovem Mulher, de Léonor Serraille.
A volta do São Luiz é um alívio para todo mundo, mas é ainda maior para o programador Geraldo Pinho, que não arredou pé do cinema enquanto a história não terminasse com um final feliz. E não foi nenhum probleminha, não, daqueles que qualquer meia-sola pode resolver. “O que aconteceu foi a falência da placa mãe do projetor digital Barco. O processo burocrático de licitação, compra e instalação é o que acarreta a demora. Na verdade, faz 15 dias que o técnico Alexandre Barros deixou o projetor em funcionamento, equilibrado e pronto para operar. As outras duas semanas foram necessárias para colocar o ar-condicionado em forma. Cinema não pode parar, quando para aparecem os problemas, mas essas duas semanas foram importantes para a manutenção do sistema de refrigeração, que em breve será trocado”, adiantou.
A programação que será iniciada hoje vai até o dia 27, e ainda terá uma homenagem à Faculdade Aeso. Na terça, 29, é a vez do 22º Cine PE: Festival do Audiovisual. Em seguida, entra em cena o Festival Varilux de Cinema Francês. Só no dia 21 de junho a programação volta com lançamentos semanais.
O PROCESSO
Nesta semana de retorno, a sessão de especial de O Processo, que estreia oficialmente na próxima quinta (17), vai reviver os momentos de casa cheia do Cinema São Luiz. Filmado ao longo dos meses que culminaram com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, desde a primeira exibição em Berlim, em fevereiro passado, vem lavando a alma dos milhões de eleitores que lamentam a saída dela do comando do País. Conhecida por suas abordagens sobre o sistema judiciário brasileiro, a cineasta brasiliense filmou 450 horas de material, sem fazer entrevistas ou qualquer tipo de intervenção, mas com as câmeras abertas para tudo o que aconteceu no Congresso, registrando cenas que só agora chegam aos espectadores.
OUTROS FILMES
Realizado após um hiato de mais de 10 anos sem filmar, Quase Memória marca a volta de um dos principais remanescentes do Cinema Novo. O diretor de Os Cafajestes (1962) e Os Fuzis (1964) buscou inspiração no romance homônimo do escritor e jornalista Carlos Heitor Cony, que conta uma história que remete ao pai dele, “um homem que acreditava em tudo o que fazia e convencia todos a sua volta que era tudo verdade”. O romance, lançado em 1995, vendeu 400 mil exemplares e ganhou dois prêmios Jabuti (Melhor Romance e Melhor Livro do Ano). No elenco, Charles Fricks vive Carlos, o alter ego do escritor, enquanto Tony Ramos encarna o pai, Ernesto.
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Já Os Iniciados, de John Trengove, foge do lugar comum das práticas ancestrais sobre circuncisão de iniciação à masculinidade, para mostrar com quanto de machismo e agressão a prática é realizada, a partir da história da amizade entre um rapaz e um novato, um rebelde de Johanesburgo.
Todos os Paulos do Mundo, parafraseia Todas as Mulheres do Mundo, onde fazia o ator fazia par com Leila Diniz. O documentário é um mergulho na carreira de Paulo José. Narrado por varias vozes, através de textos que ele escreveu, o filme revela todo o talento de Paulo José, como ator e diretor.
Ganhador do Prêmio Un Certain Regard, do Festival de Cannes, no passado, e do Prêmio de Melhor Filme do Janela Internacional de Cinema do Recife, no mesmo ano, Jovem Mulher, de Léonor Serraille, é um filme acima de tudo corajoso e feminino. Além de expor muitos dos problemas de sua personagem, sem vitimização, mas a partir das suas escolhas, o filme foi feito unicamente por melhores em suas quase todas as etapas de sua realização.