Crítica

'Alfa' traz primórdios da relação homem-animal, mas com narrativa empacada

Dirigido por Albert Hughes, 'Alfa' leva trama pré-histórica para as telonas, mas roteiro problemático compromete experiência; confira crítica

Rostand Tiago
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Rostand Tiago
Publicado em 07/09/2018 às 10:50
Foto: Columbia Pictures/Divulgação
Dirigido por Albert Hughes, 'Alfa' leva trama pré-histórica para as telonas, mas roteiro problemático compromete experiência; confira crítica - FOTO: Foto: Columbia Pictures/Divulgação
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A jornada de retorno para casa, enfrentando ameaças externas da natureza, ao mesmo tempo em que se lida com os limites pessoais e emocionais, já rendeu boas histórias no cinema. Em 2016, Alejandro G. Iñárritu conquistou o Oscar de melhor direção por O Regresso, que contava com uma trama nesses moldes, garantindo ainda o inédito prêmio de atuação para Leonardo DiCaprio. O estadunidense Albert Hughes com certeza se empolgou com o trabalho do colega de profissão, decidindo produzir uma versão clean e mais infantilizada da obra do mexicano com Alfa, mas aqui se fazendo totalmente esquecível.

Aqui acompanhamos uma tribo pré-histórica, mais especificamente o jovem Keda (Kodi Smit-McPhee), filho do líder do grupo. Ao atravessar todo rito de passagem que o considerará um homem do bando, o rapaz parte para uma caçada em grupo, mas acaba sendo jogado de um penhasco por um animal e abandonado pela tribo. Ao empreender sua jornada de retorno para casa, seu caminho acaba se cruzando com o do cachorro que será batizado de Alfa, iniciando uma relação que o acompanhará contra as intempéries da natureza.

Problemas e problemas

Com esse simples enredo em mãos, Hughes ainda assim consegue se atrapalhar e empregar uma estrutura narrativa problemática e empacada. Sua primeira decisão é de iniciar a história já com o ataque que leva ao incidente no penhasco, artifício narrativo conhecido com "in media res", para depois retornar aos momentos de sua vivência e preparo na tribo, na tentativa de estimular a curiosidade sobre o que aconteceu até ali. O problema é que essas passagens anteriores são rasas e excessivamente expositivas, criando o mundo da trama de forma artificial, com um didatismo irritante. Assim, quando o momento que deveria ser impactante chega, ele é diluído por já ter sido visto, sem cumprir seu objetivo de despertar o interesse.

Quem canaliza bem essa falta de profundidade da primeira parte da obra é a figura de Tau (Jóhannes Haukur Jóhannesson, com feições que o fazem parecer um filho perdido de Orson Welles), pai de Keda. O personagem é uma mistura de chefe tribal com coach empreendedor, que não consegue passar 5 minutos sem soltar alguma boba frase motivacional, como “Ele lidera com o coração” e outras relacionadas a provar o seu valor. Sua relação com seu pupilo ainda é mal desenvolvida em tela, chegando a pincelar um conflito entre sua posição como líder e pai, mas acaba caindo em um melodrama fraco.

Com Keda perdido, o segundo ato apresenta melhoras, mas continua com problemáticas. Se por um lado, a sua relação com seu amigo canino consegue ser a melhor coisa do filme, principalmente pelo excelente desempenho do cachorro virtual, é nesse momento que as coisas perdem ritmo e empacam. O retorno para casa do jovem não consegue evocar tensão nas ameaças que aparecem, incapaz de fazer o público temer pela vida do protagonista até mesmo com o ataque de um grande tigre em uma caverna fechada.

Alfa ainda traz algumas bonitas composições em sua fotografia e pontuais firulas interessantes na montagem. Nada que dê substância à pretensão de criar uma bela narrativa entre o primórdio do afeto entre homem e animal, já que a história apresentada parece atolar na neve que atrapalha a caminhada de seus protagonistas.

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