Aos que já conhecem a saga de sucesso Millennium, o lançamento de Millennium: A Garota na Teia de Aranha nos principais cinemas do Brasil propõe um mergulho na angustiante história da personagem Lisbeth Salander (Claire Foy).
Levando uma vida às escondidas, Salander - entre as melhores hackers do país - recebe uma demanda praticamente impossível: retomar o comando de um programa de computador chamado Firewall, das mãos da agência de segurança norte-americana. Além disso, ela precisa despistar um grupo de criminosos interessados no software.
Nos diálogos, expressões e enquadramentos, o longa deixa claro a dimensão do que está em jogo. Milhões de pessoas podem morrer caso o sistema esteja nas mãos erradas. Nem seu próprio criador, Frans Balder (Stephen Merchant), conseguira retomar as rédeas do programa, que serve de porta de entrada a um imenso arsenal bélico. Salander, mais protagonista do que em outros filmes da saga, é a única capaz de solucionar a problemática.
A obra é mais uma adaptação da série do jornalista e escritor sueco Stieg Larsson. Outra parte já ganhou adaptação do diretor norte-americano David Fincher (O Homem que Não Amava as Mulheres), entretanto, desta vez, sob a regência do uruguaio Fede Alvarez, o que se apresenta é uma Lisbeth Salander ainda mais enérgica em comparação à interpretada pela atriz Rooney Mara. Talvez pelas vontades entre diretor e atriz de imprimirem suas personalidades em torno da icônica personagem.
Se em filmes anteriores, como o de Fincher, alguns mistérios e dúvidas surgiam sobre Salander, algumas dessas incógnitas são desvendadas, enquanto outras permanecem intactas. É interessante como a trama tenta justificar como acontecimentos da vida da hacker estariam extremamente atreladas a seu comportamento, sua solidão e escolhas pessoais. Isso torna-se evidente em Millennium: A Garota na Teia de Aranha.
Protagonismo
Há um campo importante da vida da personagem, no entanto, que não ganha aprofundamento - ao menos, não fica claro aos que não acompanham outros filmes da saga -, que é a tendência de Lisbeth de castigar homens que violentam mulheres. Esse é um aspecto crucial, visto que foi a partir de manchetes nos jornais em torno desses fatos que ela ganhou notoriedade na opinião pública. Sobretudo a partir dos escritos de seu amigo Mikael Blomkvist (Sverrir Gudnason), jornalista da revista Millennium.
Questões familiares e flashes de vivências da infância da personagem se alinhavam aos desdobramentos em torno do Firewall, a partir de uma trama regida com maestria por Alvarez. Não é no início que o realizador escolhe apresentar como presente, passado e futuro vão se unir. Pontos aparentemente sem conexão, de tempos diferentes, vão sendo costurados como se fabricasse uma espécie de teia de aranha.
Neste Millennium: A Garota na Teia de Aranha, o futuro das irmãs Lisbeth e Camilla Salander, interpretada por Sylvia Hoeks, apresenta-se carregado de um passado sombrio, e que precisa ser desnovelado. As duas, inclusive, protagonizam duelos cheios de ação e potentes diálogos de tirar o fôlego.
Ao longo da narrativa, o modo como Lisbeth vai desconstruindo aspectos que seriam associados a uma vilã, como algumas vezes é lida pela opinião pública, dão lugar a uma poderosa anti-heroína. O olhar seguro da interpretação de Claire Foy contribui para que se estabeleça uma espécie de confiança entre o espectador e a protagonista.
Conhecido por filmes que transitam entre o suspense e o terror - A Morte do Demônio, O Homem das Trevas e o curta Panic Attack! - , neste mais recente, o diretor Fede Alvarez oferece um thriller com pitadas de melodrama e carregado de cenas de ação. Às emoções dos personagens, sobretudo de Salander, são apresentadas câmeras em constante movimento e soluções surpreendentes a cada obstáculo.
Em Millennium: A Garota na Teia de Aranha, torna-se evidente que, para sua protagonista, é preciso revisitar o passado e suas questões para se compreender o presente e seguir adiante.