Em maio do ano passado, Fernando de Noronha foi surpreendida com o nascimento de um bebê. Fazia 12 anos que nenhuma gestação era finalizada no arquipélago, já que a maternidade local foi fechada e, dois meses antes de darem a luz, as mães são mandadas ao Recife. O parto pegou desprevenida até a mãe, que à época afirmou que não sabia estar grávida. A discussão sobre o impedimento de partos no local foi reacesa, mas há tempos a questão já mobiliza moradores e também visitantes, como a diretora Kátia Mesel, que desenvolveu o curta Parto Sim! a respeito da temática. A obra estreia sexta-feira (8), às 20h, no Cinema da Fundação/Museu, em Casa Forte.
Assim como muita gente, Kátia não sabia da proibição de nascimentos em Fernando de Noronha. A primeira vez que ouviu falar sobre o assunto foi em 2005, quando foi à ilha gravar o longa O Rochedo e a Estrela.
“Apesar de estar na correria das gravações, comecei a ouvir as questões dos moradores e essa me tocou. Em 2010, voltei a Noronha como curadora do Eco Cine Noronha e pude conversar melhor com as pessoas. Em outros anos, retornei e esse assunto continuava a me inquietar. Em 2012, escrevi o roteiro para um documentário, inscrevi por três anos no Funcultura, mas não foi aprovado”, lembra a diretora.
FICÇÃO
Foi então que, em 2017, ela soube do edital Carmen Santos de apoio à produção de curtas-metragens dirigidos por mulheres.
Kátia Mesel, então, transformou seu roteiro, adaptando-o para uma ficção inspirada em fatos reais.
Sua narrativa acompanha, ao longo de quinze minutos, a vida de Lia (Laís Vieira), nativa de Noronha que entra nos últimos momentos da gravidez e precisa deixar a ilha para ter seu bebê no continente, pois não há estrutura para uma concepção no hospital local.
Grande parte do filme foi ambientada na praia dos Carneiros, no Litoral Sul do Estado, pois, segundo a diretora, devido à mudança da administração da ilha, no ano passado, questões logísticas foram inviabilizadas de última hora.
“Considero que conseguimos fazer um trabalho muito delicado, que vai tocar todas as mulheres, independente de terem filhos ou não. O filme não fala só sobre a impossibilidade de parir em Fernando de Noronha, um direito que é negado, mas também sobre outros temas que rondam o feminino na ilha, como a falta de oportunidades de trabalho, gravidez precoce, aborto e prostituição”, explica.
A diretora aponta ainda a felicidade de estrear o filme hoje, quando se comemora o Dia Internacional da Mulher, e quando também completa 71 anos. A sessão também terá foco na acessibilidade, com a presença de intérprete de LIBRAS, audiodescrição e legendas.
Kátia Mesel também conta que algumas conquistas foram adquiridas desde a primeira versão do roteiro, o que provocou modificações. Uma delas foi o direito das crianças nascidas no Recife de terem o registro feito em Noronha.
“Este é um filme que nasce com a proposta de levantar debates, de apresentar um tema que é tão importante e tão pouco conhecido”, reflete.
Ela adianta ainda que o filme será exibido no festival Curta Taquary, em Taquaritinga do Norte (RN), em abril.