Crítica

'Vingadores: Ultimato' encerra ciclo de forma humana e honesta

'Vingadores: Ultimato' estreia nesta quinta-feira e conclui épica história com engenhosidade narrativa e novas camadas para personagens: confira crítica

Rostand Tiago
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Rostand Tiago
Publicado em 25/04/2019 às 13:33
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'Vingadores: Ultimato' estreia nesta quinta-feira e conclui épica história com engenhosidade narrativa e novas camadas para personagens: confira crítica - FOTO: Foto: Divulgação
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Estreando nesta semana, Vingadores: Ultimato recebe do público um olhar muito diferente dos filmes exibidos em outras salas, sendo essas poucas, já que o 22º filme do chamado Universo Cinematográfico da Marvel ocupa mais de 80% das sessões em sua estreia, trazendo  válidos debates mercadológicos sobre esse tipo de concorrência desequilibrada. Falando em termos da experiência, o filme dirigido pelo irmãos Joe e Anthony Russo carrega essa distinção por não trazer as expectativas de uma obra em si, mas a de uma  narrativa com mais de 10 anos, responsável por solidificar os heróis das histórias de quadrinhos como um gênero que marcará a história do cinema blockbuster.

Aqui temos a segunda parte da história final iniciada em Guerra Infinita, lançado no ano passado. Os eventos finais deste último culminaram com o ambicioso Thanos (Josh Brolin) reunindo as poderosas Jóias do Infinito e eliminando metade da vida do universo com um estalar de dedos. Agora, sobreviveram nomes como Tony Stark/Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), Steve Rogers/Capitão América (Chris Evans), Thor (Chris Hemsworth), Natasha Romanoff/Viúva Negra (Scarlett Johansson), Bruce Banner/Hulk (Mark Ruffalo) e Clint Barton/Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), todos da equipe original dos Vingadores, além de alguns outros membros mais recentes. O mundo deles se encontra em um cenário distópico e os sobreviventes tentam seguir suas vidas, até a chegada de Scott Lang/Homem-Formiga (Paul Rudd), que apresenta uma possibilidade de reverter o massacre.

Vingadores: Ultimato é a maior prova da carreira dos Russo, que ingressaram no universo Marvel em 2014 ao dirigirem o ótimo Capitão América: O Soldado Invernal, com suas capacidade de criar engenhosas tramas e a apurada habilidade em filmar cenas de ação levando ambos ao  comando dos mais grandiosos projetos do estúdio. Para lidar com a tarefa, já iniciada no filme anterior, os Russos trazem um filme com aproximadamente três horas, duração que precisa de competência para funcionar, correndo o risco de cair em sérios problemas de ritmo e sabotar a sólida narrativa que Guerra Infinita iniciou tão bem.

Conduzindo um bom fim

Felizmente, a duração corresponde exatamente às ambições propostas para esse final. Era preciso ancorar firmemente os conflitos internalizados com as perdas que ocorreram, dar a devida dimensão do impacto e ilustrar a nova configuração do mundo. É nessa primeira parte que todos vão ganhando camadas que os humanizam como nunca antes, além de evocar um interessante contraste com a equipe do primeiro filme, lançado em 2012.

Lá, os Vingadores eram a última linha de defesa da humanidade, um símbolo de esperança que, por mais que precisassem aparar algumas arestas, inspiravam otimismo. Agora, caem os uniformes de heróis e todos assumem o manto de humanos quebrados. A força de lutar se transforma em uma força de aceitar o mundo como ele é agora e tentar seguir em frente. O espírito do mundo mudou sensivelmente do começo da década para cá e a sensação que fica é a de que essa dor talvez seja a forma que os Russos encontraram de refletir isso em seus personagens, garantindo-lhes potentes novas dimensões.

Com tudo isso bem ancorado e um laço empático entre personagens e público fortemente construído, entra a segunda parte da trama, em que o filme traz uma  arriscada ferramenta narrativa. Aqui, mesmo se tratando de uma missão complexa, a condução do enredo escolhe sacrificar um pouco seu ritmo para que as coisas sejam bem explicadas e não deem margem para furos. O artifício, entretanto, traz boas memórias desses 11 anos de histórias, ressignificando e trazendo um novo prisma para momentos emblemáticos e até para os mais esquecíveis.

Para fazer jus ao ambicioso esquema narrativo bem montado, a direção dos Russos também dá profundidade aos espaços, ainda mais valorizados quando vistos em 3D. Uma nave à deriva na imensidão do espaço ou um grande campo de batalha ganham contornos com um alto grau de imersividade. Uma das assinaturas do irmãos Russo, de criar cenas de ação que estabelecem bem o espaço e não deixam o espectador perdido em suas execuções também é presente.

Um ciclo realmente se fechou, de forma honesta e bonita. Vingadores: Ultimato traz em sua longa duração a capacidade de ir dos momentos mais intimistas aos épicos com naturalidade. O filme se mostra consciente que muita coisa mudou nesses 11 anos, até mesmo para as mais escapistas obras, mas se potencializa ao mostrar que há algo ali que permanecerá, talvez um senso de coletividade na tentativa de se reerguer e tentar ajudar a reconstruir uma sociedade quebrada. Os caminhos do gênero agora vão ser cada vez mais difíceis ao se levar em conta o alto nível que Guerra Infinita e Ultimato estabeleceram para essas narrativas.

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