A diretora brasileira Alice Furtado apresentou nesta quinta-feira (23), em Cannes, o filme Sem Seu Sangue, sua visão particular da paixão entre dois jovens, com sangue e elementos de terror para tornar uma história "mais sensual".
Entre realismo e cinema fantástico, o primeiro longa-metragem dirigido por Furtado narra a transformação de Sílvia, uma adolescente introvertida que se apaixona por Artur, um jovem hemofílico e problemático. A relação dá força e faz dela uma pessoa muito mais determinada. Um acidente acaba com o relacionamento e deixa Sílvia em um vazio existencial, obcecada por ressuscitar o namorado.
Fã do gênero terror, Alice Furtado, que teve a ideia para o filme a partir do fim de um relacionamento amoroso, desejava impregnar a história com um tom fantástico para dar força ao desejo da protagonista.
"O sangue e todos os elementos de horror e fantásticos dão muita intensidade e sensualidade à história", admite a diretora em uma entrevista à AFP.
Para mostrar a mistura de "desejo e medo", Furtado utiliza progressivamente diversos recursos do cinema de terror, que aumentam à medida que a obsessão de Sílvia avança. O fato de Artur ser hemofílico, uma doença que impede a correta coagulação do sangue, reforça a ideia da cineasta.
"Me interessava o sangue no centro da história", afirmou a cineasta, mas também a história "de alguém que pode estar entre a vida e a morte muito facilmente".
Para interpretar os protagonistas, Alice Furtado selecionou Luiza Kosovski, uma estreante, e Juan Pavia, que já atuou em algumas novelas. O ator argentino Nahuel Pérez Biscayart, que se destacou no Festival de Cannes há dois anos com "120 Batimentos por Minuto", tem uma pequena participação no filme.
"É um amigo", explica Furtado, que estudou na Faculdade de Cinema francesa Le Fresnoy com o também argentino Eduardo Williams, amigo de Pérez Biscayart. "Procurava alguém que tivesse facilidade com vários idiomas, e Nahuel era perfeito para isto", comenta.
QUINZENA
Sem Seu Sangue foi selecionado para a Quinzena dos Realizadores, mostra paralela não competitiva de Cannes.
O Brasil tem grande destaque na edição de 2019 do Festival de Cannes, com quatro filmes selecionados, entre a mostra oficial e as seções paralelas.
Além do longa-metragem de Furtado, Bacurau, dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, disputa a Palma de Ouro, enquanto A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, de Karim Ainouz, está na mostra Um Certo Olhar e o documentário Indianara, de Aude Chevalier-Beaumel e do brasileiro Marcelo Barbosa, na seção ACID.
A forte presença no maior festival de cinema do mundo "é muito importante, sobretudo, porque no Brasil, neste momento, é necessário reforçar a importância da cultura", destaca Alice Furtado, em referência ao governo do presidente de extrema direita Jair Bolsonaro.
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