A Fundação Joaquim Nabuco oferece um belo presente aos cinéfilos pernambucanos, no eco das comemorações dos seus 70 anos de atividade. Desta quinta-feira até domingo, a Mostra Inéditos do Cinema Português traz seis títulos recentes da cinematografia lusitana, realizados entre 2014 e 2017, alguns em coprodução com o Brasil. Dos seis longa-metragens, quatro tiveram distribuição comercial no Brasil, mas acabaram não estreando em Pernambuco. Os outros foram cedidos numa parceria entre a Fundaj, o Instituto Camões e a Embaixada Portuguesa, em Brasília. A exibição acontece no Cinema da Fundação/Museu, em Casa Forte, com entrada gratuita.
Um dos esteios das comemorações dos 70 anos da Fundaj é a evocação do conceito de “luso-tropicalismo”, elaborado pelo sociólogo e escritor Gilberto Freyre, que no ano que vem completaria 120 anos de nascimento. Em sua obra, Freyre destacou, entre outros aspectos, a língua portuguesa como um dos principais elos de identidade cultural entre os países lusófonos. “Essa mostra é uma excelente oportunidade, não só de conhecermos mais o cinema atual produzido em Portugal, como também de difundirmos as ideias de Gilberto Freyre”, diz a coordenadora do Cinema da Fundação, Ana FarachE.
A mostra está dividida entre documentários e filmes de ficção, bastantes diversos entre si, com obras ligadas ao cinema de gênero (terror) e de temática adolescente. A cultura portuguesa mais autêntica está representada com o documentário Fado Camané, de Bruno de Almeida, que abre a mostra nesta quinta à noite. Filmado em preto e branco, o documentário revela o universo e o talento do fadista Camané, ou melhor, Carlos Manuel Moutinho Paiva dos Santos, de 52 anos, na sua relação com outros artistas.
Dois dos mais esperados filmes da mostra são dirigidos por Teresa Villaverde e Rita Azevedo Gomes, as mais importantes realizadoras do cinema português atual. No entanto, os filmes delas ainda são poucos conhecidos do público brasileiro. Colo, uma análise da crise econômica portuguesa, a partir das relações de uma família burguesa, é o primeiro filme de Teresa exibido comercialmente no Brasil.
Ligada à Cinemateca Portuguesa, como designer gráfica de catálogos, Rita Azevedo Gomes só nesta década revelou-se uma grande cineasta, ao realizar três longas-metragens. Um deles é o ensaio Correspondências, sobre a troca de cartas entre os poetas Jorge de Sena, exilado no Brasil e nos Estados Unidos, e Sophia de Mello Breyner, que não se dobrou ao regime salazarista.
Os outros três filmes portugueses que compõem a mostra foram feitos por diretores mais jovens. Voltar à Terra, o único longa dirigido pelo diretor de fotografia João Pedro Plácido, numa homenagem ao lugar onde nasceu. John From, de João Nicolau, olha com afeto o universo juvenil, a partir dos olhos de uma adolescente. E A Floresta das Almas Perdidas, de José Pedro Lopes, também filmado em preto e branco, adentra o território do terror, uma temática pouco usual no cinema português.
PROGRAMAÇÃO
Quinta, 25/7
20h | Fado Camané (Portugal, 2014)
Documentário. Direção: Bruno de Almeida.
O documentário mostra o processo de criação de uma das maiores vozes da atualidade do fado português. Camané – Carlos Manuel Moutinho Paiva dos Santos – nascido em Oeiras, em 1967, abre as portas do seu universo numa análise profunda do que é o fado, uma tradição oral, a escolha dos poetas e a misteriosa magia do processo criativo.
Livre | 72 minutos
Sexta, 26/7
18h20 | Voltar à Terra (Portugal, 2015)
Documentário. Direção: João Pedro Plácido.
Nas montanhas do norte de Portugal um pequeno vilarejo, chamado Uz, sobrevive, cada vez mais deserto devido à imigração. Com 49 moradores locais, o documentário acompanha esses habitantes durante as quatro estações do ano. Dentre eles, o jovem pastor Daniel, que sempre sonha com os amores da vida.
12 anos | 78 minutos
20h | Colo (Portugal, 2017)
Ficção. Direção: Teresa Villaverde. Com João Pedro Vaz, Alice Albergaria Borges, Beatriz Batarda.
A rotina de uma família é abalada pelos efeitos da crise econômica. A mãe se desdobra em dois empregos para pagar as contas, o pai segue desempregado e a filha adolescente guarda segredos para fugir da realidade. Aos poucos, eles se tornam estranhos uns aos outros, enquanto a tensão se transforma em silêncio e culpa.
14 anos | 136 minutos
Sábado, 27/7
20h | Correspondências (Portugal/Brasil/Grécia/Argentina/França, 2016)
Documentário. Direção: Rita Azevedo Gomes.
Um filme-ensaio, no qual a realizadora Rita Azevedo Gomes encena a correspondência de 20 anos entre dois amigos: Sophia de Mello Breyner, poetisa resistente durante o regime salazarista português; e Jorge de Sena, escritor auto-exilado, no Brasil e nos EUA, em busca de uma liberdade que também acabaria por desaparecer.
Livre | 145 minutos
Domingo, 28/7
18h30 | John From (Portugal, Brasil, 2015)
Ficção. Direção: João Nicolau. Com Júlia Palha, Filipi Vargas, Leonor Silveira.
Rita é uma adolescente que não faz muita coisa da vida. Ela ocupa o tempo ocioso pegando sol na varanda e interagindo com Sara, sua melhor amiga. Um dia ela se interessa pelo seu vizinho, um homem bem mais velho que ela e tenta atrair sua atenção.
Livre | 95 min
20h20 | A Floresta das Almas Perdidas (Portugal, 2016)
Ficção. Direção: José Pedro Lopes. Com Daniela Love, Jorge Mota, Mafalda Banquart, Lígia Roque.
No interior de Portugal, numa remota floresta conhecida pelas recorrentes práticas de suicídio, duas pessoas se encontram. Ricardo, um pai de família que perdeu a filha, e Carolina, uma jovem no começo da vida adulta, que tem gostos sombrios e peculiares envolvendo a morte.
14 anos | 71 minutos
Serviço:
Mostra Inéditos do Cinema Portguês
Cinema da Fundação/Museu
Avenida Dezessete de Agosto, 2187 - Casa Forte
Entrada gratuita