A derradeira trilogia do principal núcleo narrativo de Star Wars chegou ao fim, sob a batuta de J.J Abrams, dando um fim a uma história de mais de 40 anos. Era a hora de resolver o que estava pendente, se despedir de velhos conhecidos e estabelecer os arcos dos novos nomes que protagonizaram esses novos capítulos. A Ascensão de Skywalker até o faz. De uma forma básica, pontuando com alguns momentos de forte apelo emocional, mas dentro de uma estrutura corrida que não se permite desenvolver elementos que precisavam de um pouco mais de carinho. Este terceiro capítulo é algo que até desce fácil e enche o estômago, mas deixa um retrogosto amargo que tende a aumentar na medida em que se pensa sobre a obra.
Voltamos após os eventos do ousado e inventivo de Os Últimos Jedi, dirigido por Rian Johnson. A autoritária Primeira Ordem, agora liderada por Kylo Ren (Adam Driver), ganha uma nova força quando uma velha força do passado começa a se erguer em um planeta que abrigou a maligna ordem Sith. Sabendo disso, a Resistência, liderada pela General Organa, também busca investigar o surgimento dessa nova força, enviando Rey (Daisy Ridley), que tenta lidar com seu passado ao mesmo tempo em que tenta finalizar seu treinamento Jedi, acompanhada por Finn (John Boyega) e Poe Dameron (Oscar Isaac). Tudo se encaminha para um último confronto entre as duas forças em conflito na galáxia.
Um caminhar instável
A partir dessas diretrizes, começa o "buruçu" que permeia o desenrolar da trama do filme. É irônico como o roteiro consegue ser corrido, ao mesmo tempo em que é inchado. O tempo em si é mal distribuído. Muitas revelações e apresentação de conceitos importantes são simplesmente jogados e cabe ao público aceitar intervenções as quais não há nenhum esforço para serem justificadas. Mas ainda assim, Abrams parece achar tempo para ir e vir em uma trama de viaja para lá e para cá, procura tal personagem que também vai ser subdesenvolvido, sem dar conta dos acontecimentos realmente importantes.
Ainda assim, a força de seu trio de protagonistas consegue ser bem preservada de alguma forma e suas trajetórias conseguem ser coesas dentro desse cenário não tão bem amarrado. Se nas vésperas de O Despertar da Força (2015), havia uma preocupação se os novos personagens conseguiriam se sustentar para além dos clássicos. Preocupação dissipada neste capítulo final, com Kylo, Finn, Poe e, principalmente, Rey se consolidando como partes marcantes dessa história. Isso ainda ganha outro contorno quando se fala em um trio formado por uma mulher, um homem negro e outro latino.
Dito isso, o grande problema das revelações e conceitos mostrados nessa nova história não é sua palpabilidade, mas seu subdesenvolvimento. O roteiro e a montagem parecem estar de mãos dadas nessa tarefa de passar por cima desses momentos essenciais para a justificar os grandes eventos do enredo. É demandado cada vez mais esforço para se acreditar tudo aquilo que vai sendo proposto para suas principais viradas, quando essas não caem na pura conveniência. Tudo isso dentro de uma estrutura tão básica e morna que funciona, mas não empolga o tanto que deveria.
A sensação que fica é de um recuo em relação ao que foi feito por Rian Johnson no episódio anterior, um apelo a um certo conservadorismo narrativo, muito impulsionado por fãs puristas. Uma pena, pois um caminho para uma identidade própria deste novo momento foi tão bem aberto. Coube a Abrams fazer sua tarefa de entregar um encerramento que se sustenta e toca bem em um lado emocional, mas atende muito mais uma demanda mercadológica do que o desejo de trazer uma narrativa viva e tratada com um pouco mais carinho. Por ora, vamos deixar os Skywalker descansar.