Federico Fellini, que tem seu centenário nesta segunda, é, com certeza, um dos maiores sinônimos de autoralidade na história do cinema. É um dos primeiros nome que vem na cabeça quando se fala em um cinema italiano, simbólico, autoral e exuberante. Nascido em Rimini neste 20 de janeiro, o emblemático cineasta começou a contribuir com a sétima arte ainda no seio do neorealismo italiano, escola de cinema que surge no pós-guerra, permeada pela calamidade e miséria do momento, usando amplamente locações das ruas e atores amadores. Em Roma, Cidade Aberta, clássico de Roberto Rosselini, considerado um marco do movimento, o nome de Fellini aparece nos créditos como colaborador no roteiro.
Foi se afastando da estética com o caminhar de sua carreira enquanto diretor, marcado pela co-direção em Mulheres e Luzes (1950), ao lado do veterano Alberto Lattuada. Em sua trajetória, pôde contar com nomes que também ficariam marcados na historiografia do cinema. Teve o grande compositor Nino Rota como recorrente autor de suas trilhas sonoras. Também teve o rosto de Marcello Mastroianni, considerado o mais importante ator da itália, como protagonista em clássicos seus, com 8 1/2 e A Doce Vida.
Fellini faleceu aos 73 anos, em 1993, vítima de um ataque cardíaco. Dirigiu até três anos antes de sua morte, quando lançou o derradeiro A Voz da Lua, protagonizado por Roberto Benigni que, anos mais tarde, ganharia dois Oscar por A Vida é Bela. Ele era casado com Giulietta Masina, atriz e sua musa, desde 1943, que veio a falecer seis meses depois da morte do marido.
10 filmes essenciais
A Doce Vida - Um dos verdadeiros ícones de sua autoralidade, A Doce Vida (1960) é a maior virada da chave que o afasta do neorrealismo e lança um fazer cinema que marcaria sua trajetória. É dele a famosa cena de Anita Ekberg e Marcello Mastroianni se banhando na Fontana di Trevi, em Roma. Também cunhou o termo Papparazo, o nome de um de seus personagens, para designar fotógrafos de celebridades. É vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes.
8 1/2 - Considerado como um dos maiores clássicos da história do cinema, o filme de 1963 é marcado por uma verve autobiográfica de Fellini, encarnada pelo fictício cineasta Guido Anselmi (Marcelo Mastroianni), fortemente influenciado pela psicanálisa jungiana.
Amarcord - Também dotados de toques autobiográficos, o filme de 1973, com Fellini já consolidado com um dos maiores autores do cinema global, revisita os anos do fascismo na Itália sob seu olhar simbólico.
Noites de Cabíria - O filme de 1957 é também protagonizado por sua esposa e musa Giulietta Masina, marcando também um período de transição entre sua criação neorrealista e sua verve mais poética e desprendida.
A Estrada - Lançado em 1954, a obra talvez seja o maior destaque de sua fase neorrealista. O filme é vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e também responsável por lançar Fellini e Giulietta ao estrelato internacional, também já marcado por por sua veia fabular e poética.
Julieta dos Espíritos - O primeiro filme em cores de Fellini, girando em torno da exploração do inconsciente, fruto de suas inclinações psicanalíticas, também protagonizado por Giulietta e vencedor do Globo de Ouro.
Satyricon - Dividido em nove episódios, a obra é uma livre adaptação do poeta Petrônio, integrante da corte do imperador romano Nero. Fellini direciona seus impulsos oníricos ao mundo antigo, entre reprimendas e libertações.
Roma - Também conhecido como Roma de Fellini, o cineasta mais uma vez percorre momentos de sua juventude, desta vez se colocando como personagem (vivido por Peter Gonzales e pelo próprio diretor). A cidade é a grande protagonista do filme.
Boccacio 70 - Trata-se de uma antologia de quatro episódios, girando em torno do amor e moralidade. Fellini dirige o segmento A Tentação do Doutor Antonio, sobre um médico de meia-idade que se declara protetor da moral em Roma, fazendo uma patrulha pela noite. O filme ainda conta episódios dirigidos por grandes nomes como Vittorio De Sica, Luchino Visconti e Mario Monicelli.
Casanova de Fellini - Aqui o diretor oferece sua visão sobre a vida do veneziano Giacomo Casanova, conhecido por seu viver hedonista e aventureiro. Fellini se debruça pelos excessos que vão se esvaziando, elementos refletidos em sua estílistica.