Até domingo

Fenearte é palco maior de encontro de criadores

Entre os cinco mil expositores, há os que se destacam pelo valor de suas criações

Adriana Victor
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Adriana Victor
Publicado em 10/07/2015 às 6:02
Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Entre os cinco mil expositores, há os que se destacam pelo valor de suas criações - FOTO: Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Da ausência da cor à profusão de verdes, vermelhos, azuis e amarelos; dos traços afilados a outros grosseiramente esculpidos; da madeira, da renda, do couro, dos galhos, da lata, da pedra, do barro do chão – a arte vem da criação. Do córrego ou “corgo”, como bem definia Nhô Caboclo (1910-1976), um dos grandes artistas populares do Brasil, nascido em Pernambuco, referindo-se à centelha criadora, ao impulso que molda a arte. Na Fenearte, aquela que se define como a maior feira de artesanato da América Latina, há como se enxergar diversos córregos, veios criadores a faiscar pelos corredores do Centro de Convenções. Lá eles estão misturados, é bem verdade, com artesanato e comércio, venda e festa. Faz parte.

Sim, vale apurar o olhar para tentar dirigi-lo à arte. Mas como saber o que vale se, como num lance mágico, milhares de artistas se reúnem, durante 11 dias seguidos, compartilhando o mesmo espaço? A aldeia global da Fenearte junta, nesta edição, cinco mil expositores espalhados por 29 mil metros quadrados. “Primeiro é preciso saber o que se quer: uma obra de arte, um artesanato ou um utilitário?”, instiga a arquiteta Roberta Borsoi, profissional que transita com propriedade entre os mundos formados por arte/design/decoração. Roberta é filha de Janete Costa, também arquiteta (que morreu em 2008), dama com olhar preciso e dedicado à arte popular.

“Ouvia dizer que tudo o que Janete botava a mão virava ouro. E comigo foi assim”, revela Valfrido de Oliveira Cezar, o Mestre Fida. Nascido em Garanhuns, operador de motobombas da Compesa, ele faz peças em madeira, principalmente ex-votos. Janete Costa achou que as esculturas de Fida lembravam os Moais da Ilha de Páscoa, no Oceano Pacífico. “Nunca tinha ouvido falar nisso”, confessa o artista. Desde Janete e seu incentivo, as peças de Fida ganharam o mundo; a criação dele ganhou um sentido.

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Outros 50 artistas dividem com Fida o que a Fenearte chama de Alameda dos Mestres. “O espaço serve para aqueles que procuram arte. A própria feira já faz um filtro, uma curadoria. É onde se reúnem os criadores com as suas marcas”, indica Roberta Borsoi. E mais: perfilados na alameda estão os herdeiros de muitos dos artistas que já não estão entre nós. É o caso das filhas de Ana das Carrancas (Petrolina), das famílias de Galdino e de Vitalino (ambos de Caruaru), dos parentes de Nuca – artesão de Tracunhaém, que morreu no ano passado, e é um dos homenageados da feira. É a gente que representa e perpetua a arte de seus ancestrais.

“Nuca deixou um caminho, um futuro que passou para os filhos e agora chega aos netos”, diz Sandra Silva, também artista, nora do mestre de Tracunhaém, o criador dos leões de cabelos encaracolados, e com quem ela conviveu por 29 anos. “Graças a Deus, estamos vendendo e muito. Os leões menores não chegaram para quem quis. Já estamos recebendo encomendas, acabaram todos”, celebra a artesã. 

Incentivada pelo sogro, Sandra começou a moldar o barro há 15 anos. “As primeiras peças eram um horror”, confessa. “Mas Nuca insistiu e eu fui em frente. Hoje faço as minhas pinhas e as minhas mandalas de barro.” Arte, sim – a delimitar trajetórias e redefinir caminhos; arte para exibição no imenso salão da Fenearte.

GUIA

Dica preciosa: por R$5, é vendido o catálogo da Fenearte, com o mapa de toda a feira, telefones e endereços dos mestres – material indispensável para apreciadores da arte popular brasileira. O mapa e a programação também podem ser consultados em jc.com.br/fenearte pelo celular.

Até domingo (12) , dia de despedida, segue a programação cultural, com cantadores, mamulengos e caboclinhos. 

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