Identidade

Fenearte promove diálogo entre linguagens culturais

Criações de arte e desfiles de moda são exemplos desse intercâmbio

Adriana Victor
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Adriana Victor
Publicado em 11/07/2015 às 6:00
Tato Rocha/JC Imagem
Criações de arte e desfiles de moda são exemplos desse intercâmbio - FOTO: Tato Rocha/JC Imagem
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O diálogo alimenta a arte: a conversa entre os estilos, o papo entre as linguagens de cada criação, a troca entre as matizes e raízes dos artesãos. Com os seus cinco mil expositores, mestres espalhados pelos corredores e a expectativa de 320 mil visitantes até amanhã, a Fenearte serve também para revelar resultados e bons frutos dessa prosa. 

Nas passarelas do evento, a marca criativa exposta por aquilo que se veste fica evidente. São oito dias de desfiles, dois a cada dia. Os três últimos, que acontecem hoje, a partir das 16h, servem como prova do discurso cultural proporcionado pela arte, carregado de identidade. Em projetos coordenados pela Secretaria da Mulher, sobem à passarela peças criadas a partir do frivolité de Orobó, da tapeçaria de Lagoa do Carro e da renda de Pesqueira.

O projeto que leva roupa e conceito à passarela da feira tem nove anos e persiste sob a coordenação da produtora de moda Andréa Tom. “É a única semana de moda fixa que atualmente ocorre em Pernambuco. E a gente está conseguindo mantê-la”, constata Andréa. 

As peças do grupo Quilombola São Lourenço, de Tejucupapo, Goiana, foram destaque. A Coreto apresentou roupas em crochê. Alunos e professores dos oito cursos de moda que existem no Estado são convidados a participar dos desfiles. “Todos precisam trazer looks relacionados ao tema da feira”, conta. Este ano, o mote é baseado no ceramista Mestre Nuca, de Tracunhaém, e no cantador Louro do Pajeú (ambos já falecidos), os dois homenageados do evento. “É importante chamar os estudantes para que eles saiam da universidade com esse olhar marcado por identidade”, afirma Andréa. 

OLHAR PARA SI

Regional e universal, erudito e popular, contemporâneo e ancestral: o diálogo travado na Fenearte se dá de muitas formas e também entre os criadores. Os mundialmente celebrados irmãos Campana vieram à feira; ajudam a consagrar a arte do couro do cearense Espedito Celeiro, por exemplo. No Espaço Interferência Janete Costa, há pedestal para os mestres na criação em madeira: Mário Teles, de Minas Gerais (filho de GTO, outro grande), Mestre Expedito e Mestre Dico, expoentes da arte santeira que ajuda a definir culturalmente o Piauí.

Também piauiense e também santeiro, Ribamar esculpe e enche de cor as peças que cria e exibe na Fenearte há mais de 10 anos. “Trabalho o ano inteiro para essa feira. Chamo isso aqui do meu Natal”, celebra o artista. Duplas dos santos Cosme e Damião, muitas Nossas Senhoras, São Sebastião, a Sagrada Família, anjos coloridos – todos estão juntos no espaço de Ribamar das Santinhas.

Do Pará, que trouxe para a Fenearte a cerâmica marajoara, barcos em madeira e instrumentos musicais, vem um exemplo de dedicação e persistência dos artistas populares. Um grupo de 17 pessoas alugou uma casa – onde há 10 colchões – ao lado do Centro de Convenções para abrigar artistas e coordenadores nos dias de feira. “Na parte de cima fica o pessoal do Rio Grande do Sul; na de baixo, a gente do Pará”, conta Carlos Martins, coordenador da comitiva de artesãos paraenses. Rachar o aluguel da casa ao custo de R$ 2.300 por 12 dias foi a saída para enxugar gastos. “Se a gente fosse pagar hotel, o dinheiro não dava.”

E que eles voltem. Para que permaneça o diálogo necessário e imprescindível. “Reconhecer o valor da criação popular é estabelecer laços, chamando cada um a olhar para si mesmo como parte de seu povo”, não para de nos ensinar Janete Costa, arquiteta, mestra e guia dos artistas populares, que se foi em 2008.


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