Considerado racista, um personagem interpretado por Eduardo Sterblitch no "Pânico" (Band) é alvo de uma denúncia encaminhada pela Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra à Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, órgão do governo federal.
Para interpretar o Africano, o humorista, que é branco, usa tinta escura e uma malha preta cobrindo todo o corpo. No programa, o personagem age como um animal e não sabe falar, apenas faz caretas e "danças exóticas".
A denúncia da comissão, ligada ao Conselho Federal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), diz que a interpretação é uma "afronta racial" que contribui para "perpetuar os efeitos e resquícios da escravidão negra", a exemplo do chamado "black face" -prática teatral de atores que se coloriam com carvão de cortiça para representar personagens negros de forma exagerada, geralmente em shows norte-americanos.
"As pessoas que produzem o personagem, o próprio ator ou as que estão rindo disso não percebem toda a carga de racismo, que tem origem na escravidão", diz Humberto Adami, presidente da entidade.
"Por que não se faz isso com judeus? Porque sabem que a reação será imediata. Fazem isso com comunidades que, tradicionalmente, têm mais dificuldade para apontar o dedo para a violação de seus direitos básicos."
RETRATAÇÃO
O "Pânico" pediu desculpas a quem se sentiu ofendido pelo personagem em nota divulgada nesta segunda (10). No texto, a produção do programa justifica a caracterização do Africano com o argumento de que, na atração, também há sátiras de "mexicanos, chineses e árabes".
"O programa 'Pânico' está no ar há 12 anos na televisão brasileira e jamais teve a intenção de ofender seus telespectadores com nenhuma de suas atrações, mas sim levar entretenimento com seu humor característico", afirma o comunicado.
Em seu perfil no Facebook, Sterblitch também pediu desculpas. "Não sou racista E também estou chorando... A quem deixei triste ou pior, peço desculpas por minha ignorância. Que, pelo menos, eu sirva de exemplo para que isso não aconteça mais", escreveu.
A atração avalia se manterá o personagem no ar. Procurada, a Band não comentou o assunto.
Para Adami, a extinção do personagem e o pedido de desculpas pela polêmica não são suficientes. Seria "inteligente", na opinião dele, que a emissora oferecesse voluntariamente algum tipo de reparação para evitar ser acionada judicialmente.
"O dano já existe. É só uma questão de o Ministério Público ou grupos interessados na questão racial postularem uma ação judicial. Era melhor que eles já fizessem a reparação, seria um exemplo sadio de como a emissora consegue buscar um outro tipo de atitude".
O presidente da comissão diz que, por enquanto, a entidade não tem a intenção de acionar a Justiça no caso.