Nicette Bruno pode falar horas e horas sobre teatro sem se cansar. Pudera: atuar é seu chamado e seu ponto forte. A atriz começou no ramo aos 14 anos. Hoje, aos 83 ("E sou muito bem vivida"), ela se entusiasma com novos trabalhos e vê a profissão como ensaio para a vida real. "O ator representa muitas vidas, o que ajuda a preparar-se e elaborar a própria vida. Eu uso o que aprendo no meu cotidiano", diz.
Veterana do teatro, televisão e cinema (estreou a TV Tupi, o primeiro canal do Brasil), Nicette agradece as benesses do tempo. Os anos a ensinaram, por exemplo, a se tornar uma atriz mais qualificada. Contudo, a quilometragem não a exime de preocupações. "O tempo dá uma estrutura para você conhecer seu ofício. Mas cada personagem que me chega é uma individualidade. É um desafio estudar e interpretar um novo papel", confessa.
Simultaneamente, o tempo também pode ser amargo. Para além das dores no joelho e no nervo ciático, que a prejudicam para subir escadas ou andar em aeroportos, Nicette convive com a ausência de seu parceiro de vida, Paulo Goulart, com quem foi casada por 60 anos. Ele faleceu, em 2014, vítima de um câncer. O casal é pai de Beth Goulart, Bárbara Bruno e Paulo Goulart Filho, todos atores.
"Claro que tenho um vazio muito grande pela perda do Paulo. Mas ele está no meu coração. Vou trilhando minha caminhada terrena até nos reencontrarmos", diz a atriz. A primeira vez em que Nicette voltou aos palcos sem Paulo foi no ano passado, quando estrelou a peça Perdas e Ganhos, inspirada na obra homônima de Lya Luft.
TRABALHO
A atriz não sente a idade que tem. O entusiasmo é o mesmo de quando começou a atuar profissionalmente, aos 14 anos. Hoje, contratada pela Globo, ela está escalada para a novela, Pega Ladrão, prevista para 2017, na faixa das 19 horas. "O trabalho contribui para que a gente fique dinâmica, porque você mexe com o corpo e a mente", diz.
Nicette faz o possível para ter boa saúde. Em sua casa no Rio de Janeiro, ela se exercita na esteira e conta com o acompanhamento de um personal trainer.
Ao relembrar sua trajetória, a atriz cita uma professora de teatro que lhe aconselhou sobre duas situações que acompanham, sempre, um ator: o sucesso e o fracasso. A saída, em ambos os casos, seria a resiliência. "Por causa disso, nunca chorei demais com um fracasso, nem me entusiasmei com o sucesso. É tudo efêmero".