A experiência de crescer num bairro onde os vizinhos são próximos, alguns até parentes, foi uma das inspirações para a roteirista Flavinha Marques ter a ideia que, mais tarde, resultaria na história do filme Bode de Natal, exibido amanhã pela Globo Nordeste, após o Jornal Hoje. "Eu morava na Mustardinha, a família da minha mãe toda morava lá, a gente tinha uma convivência muito forte de vizinhos. Não moro mais lá, mas o Natal será na Mustardinha. Hoje eu moro perto da feira de Casa Amarela, que eu frequento muito, gosto do ambiente de feira, do comércio de rua, gosto de brega, desses personagens como o vendedor de rua, o cara que amola alicate. Tenho o maior carinho, isso veio de onde eu nasci", afirma Flavinha.
No roteiro escrito por ela com Daniel Edmundson, os personagens vivem em Casa Amarela e o ambiente da feira é parte da história. "A família está passando por problemas financeiros, naquela agonia de fim de ano. Mira trabalha na barraca do primo, no Mercado, alguém faz um rolo e entrega a ela um bode vivo como parte do pagamento. Tudo acontece no próprio bairro e a história tem um lado meio fantástico, o bode também aparece na forma humana", adianta Daniel, que dirige o especial com André Hora.
A presença do bode, que na versão humana é interpretado por Arthur Canavarro, remete a outra lembrança da infância de Flavinha. O pai dela, médico, foi presenteado algumas vezes com animais vivos quando dava plantões no interior. Para a autora, eles eram vistos como bichos de estimação. "A história é meio drama, pois eles estão sem dinheiro, e meio comédia. Os pais precisam do bode para a ceia, mas isso gera muitas confusão", explica a roteirista. "Queríamos homenagear a cultural local no filme. Então não tem rena, não tem Papai Noel, nem neve. A gente queria que as pessoas vissem na TV nossa realidade, como é o Natal daqui", completa.
O elenco da produção é quase todo pernambucano (a trilha sonora tem músicas de Siba, Tibério Azul e Victor Camarote). Mira é interpretada por Clarissa Pinheiro e o marido dela, Giba, por Pedro Wagner (o público da Globo também os viu na minissérie Justiça). Eles são pais de Adrielly (Amanda Cavalcanti) e Jarmeson (João Neto). É Mira quem sustenta a família financeiramente, enquanto Giba cuida da casa e dos filhos.
"A história tem uma mulher como protagonista e tem esse olhar sobre o papel de provedora. Ela é uma mulher com voz, com peso em casa, não se sujeita ao machismo do marido. O filme não é panfletário, mas tem tanta discussão importante acontecendo para a gente não falar em coisas que estão mexendo com a sociedade... Então tem a questão feminina, a questão dos direitos dos animais e uma discussão social, sobre sair do foco do consumo", comenta a autora.
Além de Dedeco (Giordano Castro), que trabalha na feira, outros personagens se envolvem com a família. A atriz Lívia Falcão e a cantora Michelle Melo fazem participações especiais, como uma amiga de Mira que mora na vizinhança e uma cliente da feira, respectivamente. "Débora Nascimento interpreta uma cantora de brega. Michelle emprestou várias coisas para montar a personagem e tem uma música dela na trilha sonora", comenta Daniel.
ESPECIAIS
O média-metragem Bode de Natal é um dos três especiais regionais da programação de fim de ano da emissora - os outros dois são Amor ao Quadrado, produzido pela Barry Company (DF), e Santino e o Bilhete Premiado, pela Solo Filmes (MG).
Em Pernambuco, a produção é da Bateu Castelo. Os três filmes foram escolhidos entre 26 projetos que participaram de um pitching e os diretores Jayme Monjardim e Cacá Diegues foram os curadores artísticos da iniciativa. Eles foram apoiados pela Globo Filmes via Lei do Audiovisual.