Conhecido como “máquina de escrever novelas”, o paulista Walcyr Carrasco, de 65 anos, coleciona vários sucessos. A partir desta segunda-feira (23), ele assina sua segunda trama no horário das 9 da TV Globo: O Outro Lado do Paraíso. Em entrevista ao Jornal do Commercio, o autor fala sobre a nova obra e a responsabilidade de substituir o sucesso A Força do Querer.
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ENTREVISTA // WALCYR CARRASCO
JORNAL DO COMMERCIO - Depois de (mais) um sucesso estrondoso no horário das 6, você volta pela segunda vez como autor titular de uma novela das 9. Você se sente mais "calejado" e seguro para escrever para esta faixa?
WALCYR CARRASCO - Eu gosto também de mudar de horário. Transitar pelo horário das seis, pelas 23h e agora retornando para o horário das 21h. Eu acho que estou contando a história que quero com todo amor e emoção. Eu tenho que olhar a história, com o coração aberto, e não pensar nessas coisas. O que vale é a boa história independentemente do horário.
JC - O que Amor à Vida te ensinou e você não pretende fazer novamente ou modificar por completo em O Outro Lado do Paraíso?
WALCYR - Vou escrevendo um capítulo por dia de acordo com o que dia a minha emoção. Eu me incorporo aos meus personagens. Um trabalho é diferente do outro e começa do zero. Não trago referências de trabalhos anteriores. Tenho um carinho muito grande por Amor à Vida, mas são histórias completamente diferentes.
JC - Poderia explicar o porquê do título desta trama?
WALCYR - O que a gente faz aqui volta pelo bem ou pelo mal. E esse é o grande tema de O Outro Lado do Paraíso. Os assuntos entram, as histórias entram, mas tudo o que a gente faz, tem volta. O paraíso pode ser o Jalapão, o Tocantins, e o outro lado... Fica por conta de cada um.
JC - Você é conhecido por ser uma "máquina de escrever novelas". Em que momento surgiu a ideia de escrever O Outro Lado...?
WALCYR - A história é que eu fui ao Tocantins entregar um prêmio no Ministério da Educação e lá eu conheci uma moça de um Quilombo do Jalapão, do Quilombo de Mumbuca, que também estava sendo premiada. Ela chorou quando me viu e disse que começou a ler por minha causa. “Antes de conhecer o que você escrevia, de assistir às suas novelas, eu não lia. Eu mudei a minha vida e hoje estou ganhando um prêmio”, ela me disse. Aí ela me convidou para ir ao Jalapão e eu fui, conheci aquele lugar lindo. Fiz essa viagem sozinho, sem avisar a ninguém e, à medida que eu ia fazendo a viagem, ia descobrindo a novela. Fui conhecendo os lugares, as estradas, e tudo isso foi brotando e montando uma história.
JC - Você também tem um elenco muito forte na novela, principalmente pelas veteranas Fernanda Montenegro, Laura Cardoso, Nathalia Timberg e Marieta Severo. Qual a importância de abrir espaço para estrelas tão consagradas no horário nobre?
WALCYR - Quando o ator faz um trabalho que me apaixona, naturalmente eu quero tê-lo de novo neste trabalho. O Guizé me apaixonou em Êta Mundo Bom!, assim como a Bianca Bin. Acho maravilhoso poder ter contar com um time, um elenco tão experiente e magnífico. Pra mim é um grande prazer. Há atores que admiro há muito tempo como a Fernanda Montenegro e Lima Duarte, que trabalham pela primeira vez comigo. Repetir a parceria com a grande Laura Cardoso e Marieta, da qual sou um fã incondicional também.
JC - É impossível falar com você e não lembrar do fenômeno que foi Verdades Secretas, que te deu tantas alegrias (e até um Emmy). Além de trazer Grazi Massafera e Mauro Mendonça Filho na direção artística novamente, o que você traz desta experiência para agregar em O Outro Lado do Paraíso?
WALCYR - Além de Grazi, tem a Marieta, a direção do Maurinho, a direção geral do André Felipe Binder, a direção de fotografia do Mauro Pinheiro, a figurinista Ellen Millet, a caracterizadora Dayse Teixeira, enfim, grandes profissionais também do backstage que estão conosco neste trabalho novamente. São profissionais incríveis. E o Mauro (Mendonça Filho) é um grande parceiro, um cara excepcional e muito competente.
JC - Fala-se entre os críticos que A Força do Querer resgatou nos telespectadores a vontade de acompanhar uma novela das nove. A responsabilidade de substituir um grande sucesso no horário te pressiona?
WALCYR - Adoro a novela da Gloria Perez. Mas se eu parar pra pensar em responsabilidade, em substituição, em números... eu não escrevo a minha. (risos) São histórias e enredos diferentes. Acho que eu estou apresentando a história que quero contar com muito amor e emoção. De coração aberto e espero que o público receba da mesma forma. O autor não pode escrever pensando em números. Ele precisa pensar na emoção dele, deixar fluir e fazer a história. Se não, ele vai trabalhar em Marte e não em televisão.
JC - Como tem sido sua rotina para escrever a novela?
WALCYR - Eu não planejo a novela. Vou escrevendo um capitulo por dia. Isto é sagrado. Eu vou me incorporo aos personagens para criar. Costumo escrever durante a madrugada.
JC - Caso você quisesse/pudesse ressuscitar um personagem seu em O Outro Lado..., qual seria e porquê?
WALCYR - Não penso nisso. Cada personagem está dentro de um contexto específico.
JC - Você também gosta de acompanhar a repercussão nas redes sociais. Até que ponto essas opiniões vão influenciar na tua novela?
WALCYR - Adoro as redes sociais, Instagram... Mas não sou um teórico, sou um criador. Nunca usei nenhuma fonte de inspiração de personagens da internet. Minha emoção vem do público. Sou um autor que estou com a minha antena. São outras gerações que estão vindo e talvez um dia eu pare de tocar as pessoas, de emocioná-las. Por outro lado, sou muito ativo nas redes sociais. Isso me coloca em conexão com as pessoas.