Entrevista com Aguinaldo Silva: 'Sou o meu maior guardião'

Autor pernambucano conversa com o JC sobre a estreia da novela 'O Sétimo Guardião', na TV Globo, e sua relação com a vida e a ficção

Foto: Estevam Avellar/TV Globo
Autor pernambucano conversa com o JC sobre a estreia da novela 'O Sétimo Guardião', na TV Globo, e sua relação com a vida e a ficção - FOTO: Foto: Estevam Avellar/TV Globo

No mais famoso horário nobre de novelas da TV Globo, desde a última segunda-feira (12) um pernambucano passou a nos guiar para a fictícia cidade de Serro Azul. É de lá que o autor, nascido em Carpina, na Mata Norte, busca envolver o público em O Sétimo Guardião.

Numa conversa rápida, porém franca com o Jornal do Commercio, Aguinaldo fala do realismo fantástico que dará o tom da nova trama das nove, suas inspirações, intempéries que quase impediram do folhetim de ir ao ar, seus planos para o futuro e, claro, sobre a vida de um novelista que, aos 75 anos, ainda consegue prender o público com suas histórias, sejam elas reais ou não.

ENTREVISTA // AGUINALDO SILVA

JORNAL DO COMMERCIO – Aguinaldo, você se considera uma pessoa mística e/ou supersticiosa?
AGUINALDO SILVA – Acredito em presságios, em ocorrências inesperadas que têm algum tipo de significado, em encontros fortuitos, acredito que existe uma coisa maior que todos nós juntos... E acredito que gato preto não dá azar, assim como acredito que passar debaixo de escadas dá sorte.

JC – O que te levou a, finalmente, ‘revelar’ Serro Azul para o grande público?
AGUINALDO – O fato de que precisava de outra cidade inédita para nela instalar minha história fantástica e daí pensei: já que, por conta dos meus 75 anos, esta pode ser minha última novela, porque não, finalmente, visitar Serro Azul. Assim foi... E Serro Azul revelou-se, de todas minhas cidades mágicas, a mais mágica de todas.

JC – Escrever uma novela de realismo fantástico é mais divertido ou trabalhoso?
AGUINALDO – É divertido e trabalhoso. Eu me divirto com a riqueza de possibilidades que o gênero permite, mas sofro com o perigo, sempre real, do público não embarcar na minha viagem e rejeitar este meu universo. O que me dá amparo é a trama. Se você tem boas histórias para contar, consegue prender o público e, a partir de certo ponto da trama, descrever qualquer situação absurda, ele acredita.

JC – Como nasce um capítulo de O Sétimo Guardião? Poderia contar um pouco do processo?
AGUINALDO – Eu sempre digo que a novela é como um rio. Ele nasce lá no alto de uma montanha, é apenas um fio d’água que, à medida em que desce, vai crescendo, se encorpando... Até que a água simplesmente corre sem se perguntar de onde vai, para onde vai ou quando para. Os primeiros 18 capítulos da novela são sempre os mais difíceis. São aqueles em que se apresenta as tramas e se dá voz aos personagens. É o filete de água que nasce, segue seu curso e vai crescendo, crescendo... É um processo que o autor vai aperfeiçoando com a experiência. Uns dizem que é sofrido. Eu acho muito divertido!

JC – Pernambucano como você é, parte da vida que você viveu por aqui influencia de alguma forma neste novo trabalho?
AGUINALDO – Todas as minhas histórias do realismo mágico tiveram o mesmo berço. A cidade de Carpina, Pernambuco, onde, pasme, eu vivi apenas até os dez anos.

JC – Por pouco, estaríamos assistindo Enquanto Seu Lobo Não Vem ao invés de O Sétimo Guardião. Como é retomar um trabalho que, por pouco, você abriu mão? E o que será da nova sinopse que você escreveu?
AGUINALDO – Na verdade eu nunca abri mão de O Sétimo Guardião. Mesmo quando já estava escrevendo os primeiros capítulos de Enquanto Seu Lobo Não Vem eu sabia que a outra é que continuava valendo. A que ficou para trás, eu pretendo transformar numa supersérie, uma novela das 23h.

JC – A Globo fez questão de te anunciar nas chamadas da novela como vencedor do Emmy. Isso te envaidece ou te pressiona?
AGUINALDO – Tenho 49 anos de Organizações Globo. Nove anos no jornal e o resto na televisão. Sei que dei muitas alegrias à emissora de televisão e reservei para mim só as tristezas. Sim, me envaidece que, a essa altura de nossa relação, ela me trate tão bem e destaque a minha importância, como novelista, na sua história.

JC – Que personagem de O Sétimo Guardião, pelo perfil, tem sido algo completamente novo para você escrever e/ou te desafia de alguma forma?
AGUINALDO – O gato León, sem dúvida. Sim, porque ele é um personagem. Ele atua demais e eu sei que para os diretores sua presença constante é uma grande dificuldade. Procuro colocar nas cenas em que o gato atua apenas o essencial. Mas os gatos (são quatro irmãos), todos treinados desde pequenos, têm-se se revelado grandes atores. Acho até que vão ganhar prêmios...

JC – Do que você já conseguiu ver da novela, o que mais te chamou a atenção enquanto telespectador e o público terá que prestar atenção também?
AGUINALDO – A fonte. Quando a descrevi, pedi que fizessem alguma coisa parecida com a caverna do Batman. Eles construíram um hangar de 1500 metros quadrados com altura suficiente para abrigar um Boeing 737 e nele construíram “a fonte”! Nunca vi nada igual, nem nos maiores delírios de Hollywood. Não me canso de ir lá, passear por aqueles túneis enquanto ouço o barulho da água que cai de uma abertura no teto... É inacreditável.

JC – Aos 75 anos de idade, quem é o maior guardião da vida de um novelista como Aguinaldo Silva?
AGUINALDO – Sempre digo que, na minha idade, não preciso mais de namorados nem companheiros... Preciso de enfermeiros. Mas a verdade é que vivo só e sou o meu maior guardião, pois cuido de mim mesmo. Sei que já estou na fila em frente àquela porta no alto da qual está escrita a palavra “saída”... Mas, quando chegar minha vez de atravessá-la, espero fazer em grande estilo.

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