Netflix mira nos corações adolescentes com Shelly, Sierra e Lara Jean

Comédias românticas A Barraca do Beijo, Sierra Burgess é uma Loser e Para Todos os Garotos que Já Amei alcançaram destaque na plataforma

Marcos Cruz, Aaron Epstein e Masha Weisberg/ Netflix
Comédias românticas A Barraca do Beijo, Sierra Burgess é uma Loser e Para Todos os Garotos que Já Amei alcançaram destaque na plataforma - FOTO: Marcos Cruz, Aaron Epstein e Masha Weisberg/ Netflix

Com sequência confirmada, Para Todos os Garotos Que Já Amei compõe uma tríade junto aos filmes A Barraca do Beijo e Sierra Burgess É uma Loser. O sucesso de público alcançado por eles é um indício de que a Netflix detectou (mais) um filão ao observar o comportamento dos seus assinantes: as comédias românticas para os adolescentes de hoje, que acabam fisgando alguns nostálgicos, ao fazê-los lembrar dos filmes de high school da própria geração. Lançadas entre maio e setembro de 2018, elas também podem atrair espectadores que estão apenas em busca de algo leve.

De acordo com a Netflix, aproximadamente 80 milhões de assinantes da plataforma de streaming ao redor do mundo assistiram a uma história de amor na plataforma no último ano, o que representa quase 2/3 da audiência do serviço. E uma em cada três pessoas que assistiram ao filme A Barraca do Beijo o fizeram mais de uma vez.

A inspiração em livros é um ponto em comum entre os três filmes. O fato de dois deles serem adaptações diretas faz com que os longas-metragens já tenham sido lançados com uma boa base de fãs. Além disso, Para Todos os Garotos que Já Amei e Sierra Burgess É uma Loser contam com o ator norte-americano Noah Centineo, "crush" do momento.

Essas duas características são interessantes para a empresa do ponto de vista comercial. O senso de comunidade dos adolescentes hoje em dia se manifesta nas redes sociais, e tal engajamento acaba divulgando as obras de maneira mais orgânica do que podem fazer as campanhas publicitárias, o que significa também uma vitória contra os adblocks.

Como terceiro elemento, o forte apelo da nostalgia já tinha sido aproveitado pela Netflix em séries como Fuller House e Stranger Things ou a temporada especial de Gilmore Girls. Ou seja, dá resultado.

Para além das questões mercadológicas, nota-se como nos três filmes as personagens principais são interpretadas por atrizes que não correspondem ao padrão de garota alta, loura e magra ainda predominante em Hollywood. Joey King (Shelly Evans), Lana Condor (Lara Jean) e Shannon Purser (Sierra Burgess) são construídas como personagens carismáticas, com as quais é possível se identificar.

Bom, ainda há alguns elementos comuns aos filmes da geração anterior, como a presença da líder de torcida popular e o jovem atlético que é o interesse amoroso da personagem principal. Mas se nota também a construção de protagonistas que não têm seu crescimento pessoal pautado por uma transformação da aparência, além de uma valorização das amizades entre os adolescentes (meninos e meninas).

Ainda falta a protagonista negra e a latina? Sim. Haveria público para um filme nesta linha feito no Brasil? A resposta é sim também, porque não? O sucesso alcançado por produções da Netflix em diferentes países é uma prova de que há um público interessado nas peculiaridades de cada lugar ao se abordar temas universais. No caso desses filmes, temos o amadurecimento e as primeiras experiências amorosas.

Clima de Despedida

Dos três filmes citados, A Barraca do Beijo, inspirado no livro de Beth Reekles e dirigido por Vince Marcello, é o que mais foca a comédia e as cenas de festa dos jovens personagens, que estão em clima de despedida da escola onde estudam, em Los Angeles. Entre eles estão Shelly Evans (Joey King) e Lee Flynn (Joel Courtney), que deram continuidade à amizade das mães deles e compartilham vários momentos.

Quando eles crescem, Shelly começa a se interessar pelo irmão mais velho de Lee, Noah (Jacob Elordi). Mas um relacionamento entre eles significaria a quebra de uma das regras que eles estabeleceram quando eram crianças, o que deixa a personagem em uma situação delicada. Um dos pontos positivos da obra para mim é que Shelly e Lee realmente são amigos (não se trata de uma paixão a ser descoberta, como em muitos filmes).

Há também referências ao filme O Clube dos Cinco (1985), que acabam sendo como uma homenagem. A atriz Molly Ringwald, que interpretava Claire, agora vive a mãe de Lee e Noah. A outra conexão se dá pela presença da música Don’t You (Forget About Me), do Simple Minds, nas duas trilhas sonoras.

Simpática

Sierra Burgess É uma Loser e Para Todos os Garotos que Já Amei focam mais as cenas românticas do que A Barraca do Beijo. O primeiro, dirigido por Lindsey Beer, é inspirado na história de Cyrano de Bergerac.

Sierra Burgess (Shannon Purser, a Barb de Stranger Things) é, na verdade, uma jovem simpática e inteligente. Assim como o melhor amigo dela, Dan (RJ Cyler), a personagem não desfruta de popularidade na escola. Por circunstâncias que é melhor não contar aqui para não estragar a surpresa, Sierra acaba se aproximando da "menina malvada" Veronica (Kristine Froseth) em uma teia que também envolve o jogador de futebol Jamey (Noah Centineo).

A dinâmica construída entre os personagens prende a atenção do espectador, especialmente as de amizade.

Cartas de Amor

A base para Para Todos os Garotos Que Já Amei, dirigido por Susan Johnson, é o livro homônimo de Jenny Han. O que acontece com Lara Jean (Lana Condor) no filme poderia fazer com que alguns adolescentes evitassem o recreio da escola no dia seguinte.

A personagem costumava escrever cartas de amor para os meninos pelos quais estava interessada e guardá-las em uma caixa. Um dia, sem que ela saiba, todas são enviadas para os rapazes, com implicações diversas. Entre eles está Peter Kavinsky (Noah Centineo), que lhe faz uma proposta.

Mesmo sintético na abordagem de algumas situações, o filme consegue apresentar o processo de autoconhecimento da personagem.

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