'Special', nova série da Netflix, tem protagonista gay e com paralisia cerebral

Ryan O'Connell escreve e protagoniza a ótima comédia dramática

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Ryan O'Connell escreve e protagoniza a ótima comédia dramática - FOTO: Reprodução/Netflix

O escritor Ryan O’Connell nunca se viu representado em obras de arte, especialmente na televisão e no cinema. Simplesmente não havia nenhum personagem parecido com ele. Gay e com paralisia cerebral ele tomou para si essa missão e não só escreveu a série Special, disponível para streaming no Netflix, como também a protagoniza.

Baseada no livro de memórias de O’Connell, I’m Special: And Other Lies We Tell Ourselves (Eu Sou Especial: E Outras Mentiras Que Dizemos para Nós Mesmos, em português), a série tem oito episódios com durações entre 15 e 20 minutos. O humor é a ferramenta utilizada por ele para tratar do tema com naturalidade.

A série começa com Ryan, que tem dificuldades motoras por conta da paralisia cerebral, sendo atropelado enquanto volta para a casa que divide com a mãe superprotetora. O acidente é leve, mas, quando ele percebe que no seu novo emprego as pessoas acham que este é o motivo da sua dificuldade de executar alguns movimentos, o personagem aproveita para ocultar sua condição de saúde.

É quase como uma “volta ao armário”, ainda que não em termos de sexualidade. Mas, para o personagem, é libertador não ser definido pela paralisia cerebral, como aconteceu durante toda sua vida, buscando assim redefinir sua identidade.

A partir daí, ele toma coragem para vivenciar situações das quais até então se privava, como perder a virgindade e sair da casa da mãe. Todas essas descobertas são tratadas com leveza por O’Connell, que, além de um bom ator, é ótimo roteirista. A honestidade com que trata dos assuntos é gratificante.

PERSONAGENS CATIVANTES

Ainda que focada em Ryan, a série tem personagens secundários são bem desenvolvidos e cativantes, como Karen (Jessica Hecht), sua mãe, que dedicou a vida ao filho e agora busca novos propósitos; e Kim (Punam Patel), sua espirituosa e empoderada colega de trabalho.

Questionado pela revista QG sobre o que gostaria que pessoas sem deficiências aprendessem com a série, sua resposta foi que parassem de temer portadores de necessidades especiais.

“Tratem-os literalmente como a qualquer outra pessoa. Sinto que as pessoas não sabem como tratar pessoas com deficiência então ou eles ignoram ou infantilizam”, enfatizou.

Entretenimento da melhor qualidade, Special deve ainda abrir espaço para uma necessária revisão da forma como personagens com deficiência são trabalhadas no audiovisual. Contribui também com o debate urgente de se investir em maior representatividade na arte. As minorias precisam e devem falar sobre si mesmas, se representar e desconstruir preconceitos.

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